Título: BC: déficit externo do Brasil é o pior em 10 anos
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 27

ABALO GLOBAL: Analista diz que crise dificulta financiamento das contas do país, afetando mais capital de curto prazo

Com crise internacional e avanço menor do PIB, banco projeta saldo negativo 40% maior este ano, de US$28,8 bi

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. As contas externas do Brasil vão fechar 2008 e 2009 com os piores resultados em dez anos, como reflexo da crise internacional e da desaceleração da atividade econômica, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Este ano, as transações correntes do país - que englobam as operações com o exterior, como balança comercial, despesas com viagens internacionais, pagamento de juros da dívida, entre outros -- ficarão com déficit de US$28,8 bilhões, quase 40% a mais do que a projeção anterior do próprio BC. Para 2009, a estimativa é de déficit de US$33,1 bilhões. Os saldos negativos projetados só não são maiores do que o de 1998 (déficit de US$33,416 bilhões).

Apesar dos números piores, a avaliação da autoridade monetária e de especialistas é que o país continua compensando sua conta corrente com investimentos estrangeiros diretos (IED), mesmo que a margem esteja diminuindo. Além disso, a economia brasileira tem indicadores mais sólidos, e os saldos negativos representam menos de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), número considerado adequado.

- A situação para financiamento (do déficit em conta corrente) está mais difícil agora, por causa da crise, sobretudo para o capital de curto prazo. Mas o país tem câmbio flutuante e reservas internacionais importantes (acima de US$200 bilhões), o que ajuda a diluir esses problemas- afirmou o economista do banco Real, Cristiano Souza.

Este ano, o déficit maior revisado pelo BC é explicado sobretudo pelas remessas de lucros e dividendos, de multinacionais de setores e países que mais sofrem com a crise, como automobilístico e financeiro. Para 2008, as projeções saltaram de US$29 bilhões para US$33 bilhões, sendo que, no acumulado de janeiro a agosto, já somavam US$24,064 bilhões. Esses movimentos acontecem já há alguns meses e vêm de companhias que precisam repor perdas de matrizes localizadas em mercados mais atingidos pela atual crise.

Exportações vão desacelerar no próximo ano, diz BC

Só os EUA, epicentro da atual crise financeira mundial, receberam 27,2% das remessas feitas pelas empresas instaladas no Brasil entre janeiro e agosto (quase US$5 bilhões). No mesmo período de 2007, foram enviados US$2,878 bilhões para os EUA, ou 17,2% do total.

Em 2009, além de as remessas de lucros e dividendos continuarem fortes - a previsão do BC é de US$30 bilhões -, pesará na conta corrente do país a balança comercial, cujo saldo deve ficar só em US$17 bilhões, ou US$8 bilhões a menos do que o esperado para 2008.

- As exportações vão desacelerar no próximo ano, com os preços mais moderados das commodities - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

O BC também prevê mais saídas de recursos com viagens internacionais: US$6,2 bilhões em 2008, número recorde, e US$6 bilhões em 2009. Com os juros, o cenário piorou e as estimativas para 2008 são de déficit de US$7,3 bilhões, 49% a mais do que o cálculo anterior, e de US$6,7 bilhões no próximo ano.