Título: Turbulência freia o avanço do crédito no país
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 28
ABALO GLOBAL: Para economista da Febraban, cenário é de cautela já que instituições estão ajustando a demanda
Pesquisa mostra que carteira de bancos sofrerá impacto este ano e em 2009 com crise externa e aperto de juros do BC
Lino Rodrigues
SÃO PAULO. As carteiras de crédito dos bancos vão sentir primeiro os efeitos da crise financeira. Pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), junto a executivos de 26 instituições, apontou para uma redução nas expectativas de crescimento do crédito bancário (recursos livres, empréstimos para pessoa jurídica e física) por conta das turbulências na economia internacional. De acordo com os bancos consultados entre quinta e sexta-feira passadas, a média para a evolução da carteira total de crédito em 2008 caiu de 24,97% para 23,94%. Para 2009, a expectativa é de redução ainda maior: de 21,13% para 19,33%.
O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, disse que o volume de crédito menor em 2008 e 2009 já reflete as medidas de aperto monetário do Banco Central (BC) e o cenário mais restritivo de captação de recursos no mercado externo. Esta foi a primeira vez no ano que as previsões para crédito indicaram uma diminuição da carteira total de crédito.
- O resultado da pesquisa combina dois efeitos: um do aperto maior do BC e outro do enxugamento de liquidez no mercado externo. O cenário é de cautela sobre o crescimento das operações, pois os bancos estão ajustando a demanda - disse o economista, ponderando que a expansão para este ano ainda é alta, acima de 20%.
Para bancos, Brasil crescerá menos no ano que vem: 3,75%
O levantamento da Febraban, feito nos dias em que se discutia o pacote de socorro do governo dos EUA, também registra a expectativa de aperto maior na política monetária do BC, com mais duas altas nos juros básicos da economia de 0,50 ponto percentual cada uma. Com isso, a previsão é de a Taxa Selic encerrar 2008 em 14,75%.
Já as projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) em 2008 subiram para 5,15%, contra 4,79% da sondagem anterior. Mas para 2009 houve um recuo em relação ao crescimento apurado na pesquisa de julho: de 3,90% para 3,75%.
- Essa redução está relacionada ao aperto monetário adotado pelo Banco Central desde abril e também pela desaceleração da economia mundial provocada pelo agravamento dessa crise financeira - afirmou Sardenberg.