Título: Inflação trava queda na indigência
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 24/09/2008, Economia, p. 28

Pobreza no país cai, mas em ritmo menor, diz instituto

Fabiana Ribeiro

A inflação dos alimentos contribuiu - e muito - para interromper o processo de redução da indigência brasileira, em queda desde 2004. No ano passado, os indigentes somaram 10,7 milhões de pessoas ou 5,8% da população do país. Em 2006, essa proporção era de 5,6% do total. Os dados são de estudo do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada na semana passada pelo IBGE.

- Não podemos dizer que se trata de uma inversão de tendência: a indigência ficou praticamente estável, não havendo agravamento do indicador. De qualquer maneira, a renda não acompanhou a alta do custo dos alimentos. Foi um ano atípico - explicou Sonia Rocha, autora do levantamento, lembrando que o custo da alimentação contribuiu para reduzir, durante anos, o custo de vida de pobres e indigentes.

De acordo como estudo, a pobreza diminuiu no ano passado, mas numa velocidade menor. Em 2006, há uma queda neste indicador social de 3,6%. Em 2007, a redução é de 1,8%. Os pobres somaram 46,25 milhões de pessoas, 25,1% do total dos brasileiros. Segundo o Iets, o impacto dos preços dos alimentos foi atenuado porque, mesmo entre os mais pobres, "a despesa alimentar representa uma parcela declinante da despesa total".

Na avaliação de Sonia, o aumento do salário mínimo - de 8,6% entre os meses de setembro de 2006 e 2007 - teve efeitos diferentes na indigência e na pobreza. Entre os pobres, ajudou a compensar a alta dos alimentos. Já para os indigentes a inflação dos alimentos teve mais impacto. Programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, contribuíram para a melhoria dos indicadores de pobreza e indigência.

Segundo o estudo, os avanços nos dois indicadores sociais foram reduzidos pelo desempenho mais modesto do mercado de trabalho, incluindo rendimento médio e criação de vagas. De qualquer maneira, Sonia lembra que o aumento da taxa de atividade e o declínio do desemprego trazem benefícios sobre a rendas das famílias.