Título: VÍDEOS VIOLENTOS PÕEM POLÍTICA DE SITE EM DISCUSSÃO
Autor:
Fonte: O Globo, 24/09/2008, O Mundo, p. 33

HELSINQUE. Com olhar desafiador, Matti Juhani Saari olhou para a câmera e disparou duplamente ¿ com a palavra e com arma de fogo: ¿Você será o próximo a morrer!¿, afirmou. O violento vídeo postado no site YouTube pelo estudante de 22 anos que matou dez pessoas em uma escola técnica da Finlândia e depois cometeu suicídio antecipou no mundo virtual a tragédia que estava por vir ao vivo e a cores.

No site, Saari, com o codinome de Wumpscut86, postou quatro vídeos manipulando armas. O material não foi vetado pelo YouTube, que tem uma advertência clara: ¿Violência gratuita ou gráfica não é permitida. Se o seu vídeo mostra alguém sendo ferido, agredido ou humilhado, não o publique. Há tolerância zero para comportamento predatório, perseguição, ameaças e constrangimento.¿

Depois da tragédia em Kaujahoki, o site decidiu tirar os vídeos do ar, argumentando que eles haviam violado as regras. ¿Este vídeo foi retirado do ar de acordo com os termos de violação de uso¿, dizia a mensagem lida pelos interessados em conferir as imagens na web.

Entretanto, continuaram disponíveis no maior site de troca de vídeos ¿ 13 horas de material são baixadas no YouTube a cada minuto ¿ um grande número de posts com imagens de pessoas atirando com a mesma arma usada no massacre em Kaujahoki. Alguns deles, exibem jovens descarregando a Walther P22.

O ataque põe o YouTube, que pertence à gigante Google, numa encruzilhada que ameaça a essência da sua fundação. O site se define não como um juiz da moral do conteúdo na web, mas sim um agente pelo qual flui a criatividade. A empresa se recusa a policiar o material publicado pelos usuários e criou um sistema pelo qual os internautas podem denunciar vídeos que considerem ofensivos. Mas como reagir quando uma carnificina usa o site como plataforma? Um porta-voz afirmou que a companhia está preparando uma resposta e que o sistema de denúncia e a demora na retirada do material tido como imprópria será analisada.

Os vídeos feitos por Saari, que tinha como seus vídeos preferidos clipes do ataque em Columbine, no EUA, em 1999, são semelhantes ao que o estudante Pekka-Eric Auvinen, de 18 anos, publicou ano passado horas antes de matar oito pessoas numa escola em Tuusula, perto de Helsinque. A semelhança das novas imagens com as do vídeo intitulado ¿Massacre no Colégio Jokela ¿ 7/11/2007¿, em que Auvinen indicava local e data de seu ataque, chamou a atenção de um internauta, que denunciou Saari à polícia.

A polícia interrogou o estudante e concluiu que não representava perigo. A violência exposta no YouTube e as pistas deixadas por Saari não foram suficientes para que os policiais percebessem que havia algo errado no ar de Kaujahoki.