Título: De cada quatro estudantes, um está fora da série adequada à sua idade
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 25/09/2008, O País, p. 4

Defasagem é maior entre os alunos na 5ª e 8ª do ensino fundamental

Demétrio Weber

BRASÍLIA. Um em cada quatro estudantes brasileiros de ensino fundamental tem pelo menos dois anos de idade acima do previsto para a respectiva série. É a chamada distorção idade-série, nome técnico do atraso escolar. O problema atingia 25,7% dos alunos no país, no ano passado, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE. Dos jovens de 15 a 17 anos na escola, apenas 48% freqüentavam o ensino médio. Mas os números mostram que houve uma melhora em relação a 1997, quando a taxa de atraso chegava a 43%.

Os maiores gargalos do atraso estão na 5ª série do ensino fundamental, em que 30,8% dos estudantes apresentavam defasagem, isto é, tinham 13 anos ou mais); e na 8.ª série, em que 30,4% dos alunos tinham 16 anos ou mais. O IBGE considerou apenas redes onde o nível fundamental dura oito anos.

As médias nacionais escondem disparidades entre as regiões. No Nordeste, 48% dos alunos da 8.ª série estavam atrasados. Em Alagoas, eram 59,1%. Na Bahia, na Paraíba e no Ceará, a taxa também passava de 50%. No Rio, era de 34,2%.

Dos 8,5 milhões de estudantes de 15 a 17 anos no país, 48% estavam no nível adequado, ou seja, o ensino médio. São Paulo era o estado com maior proporção nesse sentido: 66,3%. No outro extremo, Alagoas tinha somente 25,6% de seus jovens de 15 a 17 anos no ensino médio.

A secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, diz que a melhoria de fluxo está relacionada à progressão continuada. Na rede paulista, os estudantes só repetem de ano se forem reprovados na 4.ª ou na 8.ª série do ensino fundamental. Nos demais anos, eles seguem adiante, mesmo que não aprendam.

Maria Helena admite que houve problemas na adoção do mecanismo no fim da década de 1990. O principal erro foi não prever um sistema de acompanhamento e reforço dos alunos. Segundo ela, isso começou a acontecer agora, com a criação de turmas especiais para estudantes de baixo rendimento e a oferta de aulas de recuperação.

¿ Progressão continuada não é deixar todo mundo passar sem aprender ¿ resume Maria Helena.

Na mesma linha, a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar, diz que é preciso combater a cultura da reprovação, mas sem abrir mão da aprendizagem.

¿ Reprovação não traz benefício ¿ diz o coordenador de pós-graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Romualdo Portela de Oliveira.

A Síntese dos Indicadores Sociais mostrou que o acesso à escola na idade apropriada está intimamente ligado às condições socioeconômicas das famílias. Entre os 20% mais pobres, apenas 28,2% dos jovens de 15 a 17 freqüentavam o ensino médio. Entre os 20% mais ricos, porém, esse índice alcançava 77%.