Título: Grampo: Jobim pede sigilo e frustra CPI
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 25/09/2008, O País, p. 11

Ministro entrega relatório do Exército com lista de compras da Abin e laudo sobre equipamentos

Leila Suwwan

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, frustrou os integrantes da CPI do Grampo ao lacrar e classificar como sigilosos os documentos que enviou à CPI para supostamente comprovar que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tem equipamentos para fazer escutas telefônicas. A CPI decidiu manter os envelopes lacrados e pedir a Jobim que autorize a publicidade dos relatórios. Jobim, que gravou ontem na Câmara programas eleitorais para candidatos do PMDB, alegou que a classificação de sigilo é do Exército, e que cabe à CPI analisar os dados. Ele não quis comentar as críticas dos deputados:

- Dei a cópia do que foi enviado pelo Exército, com o carimbo confidencial. Esse assunto está sob análise exclusiva da CPI.

O envelope contém a lista integral de equipamentos comprados pela Abin no exterior até 2005, e o laudo do Exército sobre se é possível fazer interceptações com esses aparelhos.

Nos depoimentos de ontem, houve pouco avanço na investigação sobre o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes. Uma das testemunhas, o sargento da Aeronáutica Idalberto Martins de Araújo, negou participação na Operação Satiagraha, da Polícia Federal, mas confirmou ter sido o responsável pela indicação ao delegado Protógenes Queiroz de dois nomes: Francisco Ambrósio do Nascimento (agente do antigo SNI) e o sargento Rodopiano (aposentado do serviço de inteligência da Aeronáutica).

Sem acesso a informações devido a sigilos concedidos pela Justiça, o presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), criticou juízes por conceder sigilo do "Zé do Banco", mas permitir devassa da vida do "Zé do Morro":

- Desafio juízes federais de São Paulo e os ministros do Supremo para que abram mão do sigilo sobre práticas criminosas, para que a população tenha conhecimento de tudo que está sendo apurado.

Araponga nega ter participado de grampos

Para ele, o segredo de Justiça em torno da Satiagraha esbarra em interesses maiores, relacionados à fusão BrT-Oi:

- Essa questão está no seio do governo. Criou até um antagonismo entre o ministro da Defesa e o ministro da Segurança Institucional, quando se faz uma fusão ilegal de teles.

Sobre os documentos secretos enviados por Jobim, Itagiba disse achar "lamentável".

À CPI, o araponga Ambrósio disse que analisou e-mails e negou ter participado de grampos ilegais. Ele alegou que sua colaboração eventual para a Satiagraha consistia da separação de e-mails provenientes de um HD de computador.

- Todo dia, chegava 8h, meu computador já estava ligado. Uma pasta ficava aberta, que era minha tarefa do dia. Eu jogava aquilo numa planilha: data, hora, remetente, destinatário e assunto. Não é que não lia. Fazia rápida leitura, não entrava no mérito, não fazia nenhuma análise. Isso eu não fazia. Via do que se tratava e separava por assuntos: financeiro, administrativo.