Título: DONOS DE VANS ILEGAIS ATACAM PAES
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Lima, Ludmila de
Fonte: O Globo, 25/09/2008, O País, p. 13

Folhetos apócrifos são distribuídos por sindicato, em represália a críticas do candidato

Luiz Ernesto Magalhães e Waleska Borges

O Sindicato das Cooperativas de Transporte Público Coletivo de Passageiros do Município (Sindtransrio), que reúne cooperativas de vans, está coordenando uma campanha de distribuição de três milhões de folhetos apócrifos, em pontos de lotadas e entre passageiros e motoristas, contra o candidato a prefeito pelo PMDB, Eduardo Paes. Nos folhetos, o texto afirma que, se Paes for eleito, vai impedir as vans de circular na cidade. A decisão de confeccionar e distribuir o material ¿ prática que é crime eleitoral ¿ foi tomada semana passada em reunião entre o Sindtransrio com diretores de 42 das 80 cooperativas da cidade.

O folheto exibe também fotos do governador Sérgio Cabral e do presidente do Detro, Rogério Onofre, que tem combatido o transporte pirata por meio de um convênio firmado com a prefeitura.

O presidente do Sindtransrio, Hélio Ricardo de Almeida de Souza, admitiu que a campanha é uma represália contra a posição do candidato. Paes prometeu, se eleito, licitar as linhas de vans e manter parceria com o Detro na fiscalização. Outra razão foi a ausência do peemedebista no debate promovido pelo sindicato no início do mês. Na ocasião, Solange Amaral (DEM), Jandira Feghali (PCdoB), Marcelo Crivella (PRB) e Paulo Ramos (PDT) assinaram uma carta-compromisso com o setor e prometeram rever o convênio com o Detro.

¿ Em 2006, as cooperativas intermunicipais apoiaram Sérgio Cabral na campanha para o governo do estado. Ele retribuiu trazendo de volta Rogério Onofre para o Detro. Onofre licitou as linhas, mas deixou 70% dos motoristas de fora. O que a gente quer é garantir os direitos de um setor que emprega 50 mil pessoas direta e indiretamente, seja em cooperativas ou oficinas ¿ disse, Hélio.

O presidente do Sindtransrio acrescentou que, embora outros candidatos não tenham assinado o documento ¿ como Fernando Gabeira (PV) e Alessandro Molon (PT) ¿, estes não serão alvo de campanha porque não criticaram o setor. Segundo Hélio Ricardo , após o início da distribuição de folhetos, ele teria sido procurado por emissários de Paes, que queriam a suspensão da campanha. Mas, segundo Ricardo, não há mais espaço para diálogo no primeiro turno.

Paes negou qualquer tentativa de aproximação com o setor. E manteve sua promessa de licitar o transporte complementar:

¿ Nunca disse que iria varrer as vans do Rio. Vou licitar o serviço. É claro que existe um movimento político por trás disso. Mas prefiro não especular se há outro candidato envolvido. Cabe ao TRE investigar.

O chefe da fiscalização da propaganda do TRE, Luiz Fernando Santa Brígida, disse que vai tentar hoje apreender os folhetos. Um dos objetivos é tentar identificar se algum candidato apóia a distribuição. Segundo o procurador regional eleitoral Rogério Nascimento, a distribuição desse material é considerado um crime de menor potencial ofensivo. O responsável pode ser condenado a uma pena alternativa.

¿ Nas eleições de 2006, folhetos como esses circularam ligando Denise Frossard à discriminação aos deficientes físicos; Jandira Feghali ao aborto e o Sérgio Cabral a união entre homossexuais. Mas não conseguimos descobrir os responsáveis ¿ disse Rogério.