Título: Bovespa sobe à espera de pacote americano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/09/2008, Economia, p. 25

Pregão fecha em alta de 0,5%. Dólar fica em R$1,858, com valorização de 1,47%

Juliana Rangel*

RIO, BRASÍLIA, NOVA YORK e TÓQUIO. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve ontem um dia mais tranqüilo, e subiu 0,50%, para 49.842 pontos, impulsionada por especulações com as ações da Petrobras, que acabou divulgando novas descobertas no pré-sal no fim do dia. Apesar de os investidores estarem mais seguros em relação à disposição do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) em evitar uma quebradeira geral dos bancos, há dúvidas sobre os detalhes do pacote e sua aprovação no Congresso americano. Na incerteza, a diretriz foi evitar assumir fortes posições. Ao longo do dia, os negócios somaram R$4 bilhões, abaixo da média diária do mês, de R$5,6 bilhões.

Nos EUA, o dia também foi de cautela: o índice Dow Jones, da Bolsa de Valores de Nova York, recuou 0,27%, enquanto o S&P caiu 0,20%, numa sessão com bastante oscilação. Já o Nasdaq conseguiu fechar em alta de 0,11%. O Dow registrou momentos de alta refletindo a compra, na noite de terça-feira, de parte do banco Goldman Sachs pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, por US$5 bilhões. As ações do Goldman subiram 6,3%.

Outro interessado no Goldman é o Sumitomo Mitsui Financial Group (SMFG), o terceiro maior banco do Japão, segundo a imprensa local. Seria o terceiro grande investimento japonês esta semana em Wall Street. O SMFG disse ainda não haver qualquer acordo, mas o jornal "Nikkei" disse que a operação chegaria a US$946 milhões.

Apostas de estrangeiros contra o real puxam moeda americana

Na Bovespa, no início da manhã, as ações de bancos ensaiaram uma recuperação, depois que o Banco Central (BC) anunciou novas regras para depósitos compulsórios. Mas a alta não se sustentou. Os papéis preferenciais do Itaú, por exemplo, subiram 1,30%, mas fecharam em queda de 0,66%, a R$29,80. As ações do Bradesco ganharam 0,65%, a R$29,39.

- A medida é boa porque traz mais dinheiro para a economia. Além disso, beneficia empresas, que tentaram vir a mercado para captar nas últimas semanas e não conseguiram - observou Rafael Moyses, gestor da Umuarama.

O dólar voltou a subir, encerrando o dia a R$1,858, com alta de 1,47%. A moeda acumula ganhos de 13,6% este mês. Para Sidnei Moura Nehme, da NGO Corretora de câmbio, a alta se deve a apostas no mercado futuro:

- O sobe-e-desce agora não tem mais nada a ver com falta de liquidez. Desde que o dólar bateu R$1,93, a especulação na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) foi retomada. Depois do leilão do BC, a taxa caiu bem e os investidores ainda não mudaram suas posições no mercado futuro, por isso apostam contra o real.

Ontem, nas negociações de dólar na BM&F, 67% dos estrangeiros estavam apostando na alta do dólar.

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o Brasil não foi afetado pela crise financeira internacional, porque tem uma situação financeira e bancária robusta.

- Não temos indício nenhum de maior contágio - afirmou Dilma. - O Brasil tem uma situação de muito mais solidez no que se refere às crises internacionais do que em nenhum outro momento de sua história recente.

Warren Buffett quer comprar alguns ativos da seguradora AIG

Em Nova York, Buffett revelou ontem que a Berkshire Hathaway estuda a compra de algumas unidades da combalida seguradora American International Group (AIG).

- Algumas dessas unidades, a maioria delas, acredito, estará à venda no ano que vem, e teremos interesse em um par delas - disse Buffett à rede de televisão CNBC.

Ele classificou a crise atual de "Pearl Harbor econômico" e disse que não gosta de acumular dinheiro:

- Prefiro gastar. Se não, é como guardar o sexo para a velhice.

O Goldman informou ontem ter vendido US$5 bilhões em ações ordinárias, o dobro da oferta anunciada na véspera. Já o Fed abriu novas linhas de swap cambial, de US$30 bilhões, para os BCs de Escandinávia e Austrália.

COLABOROU Chico de Gois, com agências internacionais