Título: Banco Central abre a torneira
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/09/2008, Economia, p. 25

ABALO GLOBAL

Parcela que instituições financeiras têm de recolher é reduzida, liberando R$13,2 bi para mercado

Patrícia Duarte

Menos de uma semana depois de voltar a vender dólares do mercado, o que não fazia desde 2003, o Banco Central (BC) tomou ontem mais uma medida para melhorar a liquidez no sistema financeiro nacional. Agora, a autoridade monetária relaxou parte dos compulsórios que os bancos são obrigados a recolher sobre seus depósitos, beneficiando sobretudo as pequenas e médias instituições. Ao todo, serão liberados R$13,2 bilhões a curto prazo. A cifra representa pouco mais de 5% do total dessas obrigações hoje no país, de quase R$250 bilhões.

A providência foi tomada por causa dos reflexos da crise financeira mundial, que limitou e encareceu o acesso a capitais externos. O BC avaliou que era preciso garantir recursos para empréstimos. Por enquanto, a instituição acredita que não precisará anunciar mais medidas para melhorar a liquidez interna.

As medidas anunciadas ontem envolvem duas modalidades de compulsórios. A primeira, que vai liberar R$5,2 bilhões, aumenta de R$100 milhões para R$300 milhões o valor que pode ser deduzido dos compulsórios adicionais dos depósitos a prazo, à vista e de poupança. Isso significa que, por exemplo, um banco que tenha R$1 bilhão a recolher poderá deduzir R$300 milhões. Ou seja, irão para os cofres do BC R$700 milhões.

BNDES pode ter mais R$5 bilhões

Essa medida vai melhorar a vida dos pequenos bancos que, nas últimas semanas, estavam com dificuldades para captar recursos. De acordo com João Augusto Frota, economista da consultoria Lopes Filho, para atrair clientes e obter dinheiro via Certificados de Depósito Bancário (CDBs), algumas instituições estão oferecendo taxa equivalente a 108% dos Certificados de Depósito Interbancário (taxa que segue a Selic, o juro básico fixado pelo BC, usada nos empréstimos entre bancos) - muito acima dos 100% vistos em épocas sem crise.

- O BC se antecipou a uma situação que poderia ficar muito ruim - afirmou o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.

A outra alteração envolve o recém-criado compulsório sobre recursos das empresas de leasing, que vai liberar mais R$8 bilhões temporariamente. O BC decidiu postergar o início da vigência das alíquotas mais elevadas - de 20% e 25% - sobre os recursos que não são usados pelas operadoras e que ficam depositados em bancos. Até meados de janeiro, a alíquota desse compulsório fica em 15%.

Para especialistas, essas medidas também servem como indicação de que o BC vai desacelerar o ritmo de alta da Selic. Analistas estimam aumento de 0,5 ponto percentual em outubro.

Como outra medida para elevar a oferta de crédito a empresas, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse ontem que o governo estuda devolver ao BNDES parte ou todos os dividendos de R$5 bilhões pagos pelo banco neste ano ao governo.

COLABOROU Gustavo Paul