Título: O que falta dizer
Autor: Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 25/09/2008, Economia, p. 26

Em tudo que foi dito nos últimos dias sobre as propostas para resgatar o sistema financeiro, duas palavras estão escandalosamente ausentes. São as palavras que os americanos precisam ouvir antes de comprometer US$2.300 de cada homem, mulher e criança para salvar o sistema financeiro.

São as palavras que precisamos ouvir antes que os contribuintes tenham de resgatar financistas arrogantes e muito bem pagos das conseqüências de suas más apostas e decisões equivocadas.

São as palavras que senadores e deputados eleitos precisam ouvir antes de conceder ao secretário do Tesouro o poder extraordinário de gastar dinheiro público: "Sentimos muito". Como em "Sentimos muito que aqueles de nós que deveriam ser os administradores dos maiores e mais confiáveis mercados de capitais do mundo tenham abusado dessa confiança ao colocar nossos interesses à frente dos de nossos clientes e de nosso país".

Entramos na fase política da crise financeira, cujo desenlace será determinado não pelo medo e cobiça dos investidores, mas pelas esperanças e angústias dos eleitores. A decisão deles - nossa decisão - vai se resumir a: temos uma última chance para consertar isso. Queremos colocar nosso destino outra vez nas mãos de financistas que já abusaram de nossa confiança?

E é aqui que entram as duas palavras mágicas.

Não é uma boa idéia exigir em lei que qualquer instituição financeira que queira participar no programa de resgate terá de limitar o salário de executivos a US$400 mil por ano - o mesmo que o presidente Bush - e eliminar todas as indenizações deles.

Mas chamaria a atenção se os diretores de Citigroup, Goldman Sachs, Bank of America e Morgan Stanley pedissem, em frente às câmeras, perdão por desapontar seus investidores e empregados e voluntariamente suspendessem seus esquemas salariais extravagantes até que a crise passasse.

É o que pessoas respeitáveis e honradas fazem quando erram e têm de pedir socorro. Elas não contratam lobistas para tentar adoçar mais ainda o resgate. E não ameaçam um Armagedon financeiro se não tiverem ajuda. O que pessoas responsáveis e honradas fazem é pedir desculpas por seus erros, prometer que não acontecerá de novo e pagar depois da crise. Mas, no ano que passou, não ouvimos nada disso dos titãs de Wall Street.

Todos nós sabemos que teremos de gastar dinheiro para tirar a economia do buraco. Mas até que Wall Street reúna a decência, a humildade e o bom senso de admitir seu erro colossal, não surpreende que os americanos relutem em assinar o cheque.

STEVEN PEARLSTEIN é colunista do "Washington Post"