Título: LULA VOLTA A CRITICAR BUSH EM NOVA YORK
Autor:
Fonte: O Globo, 25/09/2008, Economia, p. 28

Presidente se reúne com líderes para discutir crise financeira e ajuda a pobres

Marília Martins

NOVA YORK. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar enfaticamente sobre a crise financeira mundial e a pobreza no mundo em dois encontros sucessivos com chefes de Estado em Nova York. No primeiro encontro, realizado na sede das Nações Unidas, participaram a presidente do Chile, Michelle Bachelet, o chefe de Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e o chanceler da França, Bernard Kouchner. A primeira reunião teve como objetivo firmar o compromisso com a busca de alternativas para ajudar os países pobres a reduzir a fome. Lula afirmou que é mais barato cuidar dos pobres do que dos ricos.

¿ Pensei que o meu amigo Bush fosse falar com mais ênfase sobre a crise econômica. No Brasil nós fizemos o dever de casa. Temos 9,5 milhões a menos de pobres. Cuidar do pobre é mais barato do que usar as finanças públicas para cuidar dos ricos ¿ afirmou Lula. ¿ Tudo o que está acontecendo vai dificultar o cumprimento das metas do milênio. Os países que iam dar dinheiro para ajudar os mais pobres não vão dar mais porque vão cuidar de si mesmos. Esse assunto da crise não pode cair no esquecimento porque senão vai sobrar mais fortemente para África e para a América Latina e países que não têm nenhuma culpa.

Encontro uniu Lula, Brown, Zapatero e Strauss-Kahn

Entre as idéias discutidas pelos líderes na reunião estão: a taxação do fluxo financeiro e do comércio de armas, além de passagens aéreas.

O segundo encontro de Lula, com foco na crise econômica atual, ocorreu no hotel Waldorf Astoria e foi articulado pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Além de Zapatero e do chanceler francês, participou ainda o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn.

O presidente brasileiro voltou a falar sobre a urgência de uma convocação do Conselho Social e Econômico da ONU.

¿ Ainda temos 925 milhões no mundo sem ter o que comer. Nós avançamos a passos lentos. E precisamos mobilizar recursos ¿ defendeu Lula. ¿ Nós pedimos ao secretário (geral da ONU), Ban Ki-Moon, que se envolva nessa luta, para transformar a crise internacional (financeira) em um debate global.

Segundo ele, durante as décadas de 80 e 90, os países da América Latina e da África foram impedidos de crescer porque estavam muito endividados. Mas agora que o cenário internacional favorece nações em desenvolvimento, a crise financeira pode vir a afetar seriamente os planos de crescimento dessas nações, por causa da falta de recursos.

¿ Agora nós temos uma grande reserva internacional e nos preparamos para enfrentar tempos difíceis. E, mesmo assim, perdoamos a divida dos mais pobres, desde a Bolívia até Moçambique ¿ afirmou o presidente brasileiro. ¿ Não é justo que quem transformou o mercado financeiro num cassino venha agora nos apresentar uma conta, e uma conta que todos têm que pagar.