Título: Imposto e serviços engolem 75% do ganho anual
Autor: Novo, Aguinaldo; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 25/09/2008, Economia, p. 31

Classe média trabalha 9 meses para cobrir esses gastos. O que se ganha a partir de outubro é para comer e se divertir

Aguinaldo Novo e Fabiana Ribeiro

SÃO PAULO e RIO. O contribuinte brasileiro de classe média vai gastar 75% do ano apenas para pagar impostos e adquirir serviços que deveriam ser fornecidos pelo próprio governo, como saúde, educação, segurança, Previdência e até estradas. É o que mostra um estudo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).

De acordo com a entidade, os contribuintes no país tiveram de trabalhar até 27 de maio (o equivalente a 148 dias) para ficar em dia com os tributos cobrados pela União, estados e municípios. Depois disso, a renda obtida no período de 28 de maio a 29 de julho (63 dias) foi consumida com itens como escola e plano de saúde particular. Já os contribuintes de classe média, com renda mensal entre R$3 mil e R$10 mil, trabalharam até 5 de junho somente para pagar impostos (são 157 dias) e depois até 30 de setembro (mais 117 dias) para tapar a ineficiência dos serviços prestados nas três esferas de governo no país.

- O cidadão de classe média só começará a trabalhar para comer, se vestir, morar, adquirir bens, gozar férias e fazer alguma poupança depois de 1º de outubro - afirmou o presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral.

O estudo teve como base dados de entidades oficiais, como IBGE, Receita e Tesouro Nacional, e de privadas como Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Federação Nacional das Escolas Particulares.

A simulação levou em conta um casal com dois filhos. Considerando só gastos extras com saúde, educação e segurança, o contribuinte de classe média terá de trabalhar um dia a mais neste ano em relação a 2007 (116 dias), quatro sobre 2006 e 15 dias em relação a 2003.

- Enquanto no Brasil o contribuinte perde 75% do ano

para pagar tudo isso, nos EUA o gasto é de 55%- disse.

No primeiro semestre deste ano, mesmo sem a cobrança da CPMF, a carga tributária total no país chegou a 37,27% do PIB, com aumento de 1,24 ponto percentual em relação aos seis primeiros meses de 2007.

Queda de alimentos reduz ritmo de alta do IPCA-15

Os alimentos foram os principais responsáveis pela redução no ritmo de crescimento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), que variou 0,26% em setembro. Em agosto, o IPCA-15 registrara 0,35%. No ano, o índice acumula 4,96% e, em 12 meses, 6,20%. No mês, o grupo de alimentação apresentou deflação de 0,25%, após alta de 0,25%. Segundo o IBGE, ficaram mais baratos o tomate (-38,41%), o leite (-4,48%), a batata(-8,84%), o pão (-1,08%), o óleo de soja (-4,08%), o arroz (-1,67%), o macarrão (-1,50%) e o feijão preto (-2,76%). Apesar das quedas recentes, o grupo Alimentação e Bebidas atingiu alta de 10,52% no ano.

-- A inflação ainda pressiona em níveis incompatíveis com a meta da inflação. Para isso, a inflação mensal deveria ser de 0,37% - disse o economista João Philippe de Orleans e Bragança, da Paraty Investimentos, ressaltando que os serviços subiram 0,54% em setembro, num movimento que deve se sustentar por alguns meses -- Quando os alimentos pararem de contribuir negativamente, vamos voltar a leituras menos benignas na inflação. O grupo de serviços sente mais a demanda, não tem competição externa, e as renegociações de salários devem pesar. No curto prazo, os alimentos manterão a pressão de baixa, levando o IPCA de setembro para cerca de 0,14%.

As principais altas para o consumidor em setembro vieram de cigarro (3,67%), telefone fixo (0,85%), captando o restante do reajuste autorizado pela Anatel em julho, empregado doméstico (0,94%) e taxa de água e esgoto (1,05%), com aumentos nas regiões metropolitanas de Rio (6,88%) e São Paulo (0,35%).