Título: Especialista defende provão para professores
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 26/09/2008, O País, p. 5

Para presidente do Conselho de Secretários de Educação, número de analfabetos na escola alerta para qualidade do ensino

Demétrio Weber

BRASÍLIA. Após o IBGE divulgar que 2,1 milhões de estudantes brasileiros de 7 a 14 anos são analfabetos, apesar de freqüentarem a escola regularmente, a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), órgão que reúne as secretarias estaduais, Maria Auxiliadora Resende, defendeu ontem a aplicação de prova em todo o país para avaliar professores do ensino básico. O objetivo seria identificar deficiências de formação e até mesmo impedir que profissionais desqualificados possam dar aulas.

"Há professor incapaz de escrever um pequeno texto"

Para Maria Auxiliadora, que é secretária de Educação de Tocantins, o país precisa buscar uma solução nacional para o problema, uma vez que estados e municípios não dão conta de encontrar saídas isoladas.

- Esta é uma questão central e ninguém tem coragem de enfrentá-la. Hoje qualquer um pode ser professor e a gente não sabe a qualidade de quem leciona. Há professor que é incapaz de escrever um pequeno texto. Como vamos querer que um aluno faça isso? - disse Maria Auxiliadora, conhecida como Dorinha.

Os dados do IBGE fazem parte da Síntese de Indicadores Sociais, com base em informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2007). Dos 2,4 milhões de analfabetos de 7 a 14 anos, 2,1 milhões (87,2%) freqüentavam a escola. Na faixa dos 7 anos, 29% das crianças não sabiam ler e escrever. No Nordeste, esse índice alcançava 44%.

A presidente do Consed considera a avaliação nacional indispensável, mas deixa em aberto o formato para pôr a idéia em prática. Uma das propostas seria copiar o modelo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que realiza periodicamente o chamado exame de Ordem. Sem aprovação no exame, bacharéis em direito não podem advogar.

O "exame de magistério" poderia ser aplicado pelo MEC nos moldes da Prova Brasil e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avaliam estudantes de ensino fundamental e médio.

Uma alternativa, segundo ela, seria a padronização nacional dos concursos para o magistério. Maria Auxiliadora conta que a seleção de professores nos mais de 5.500 municípios e nos 27 estados não segue critério algum. Há casos em que as provas de concursos para professores de química ou matemática não avaliam essas disciplinas, contendo apenas questões de língua portuguesa.

- O concurso com padrão nacional poderia certificar a qualidade do professor.

Maria Auxiliadora enfatiza que o propósito da avaliação não é crucificar docentes. Ela destaca que os salários em geral são baixos e as condições de trabalho, árduas.

- Os professores são desrespeitados, os salários são baixos. Temos de enfrentar o problema. A proposta é polêmica, incomoda, e a primeira reação da categoria é se sentir ameaçada. Mas não é punição, pois a responsabilidade não é do professor. Há problemas estruturais.