Título: Fracasso histórico
Autor: Post, Do Washington
Fonte: O Globo, 26/09/2008, Economia, p. 25

Em encontro na Casa Branca, Bush, Obama e McCain não chegam a acordo contra crise

Do Washington Post

Os principais líderes congressistas americanos, o candidato democrata à Presidência, Barack Obama, e o republicano, John McCain, reuniram-se ontem para um encontro histórico na Casa Branca com o presidente George W. Bush e seus principais assessores para negociar o pacote de ajuda ao sistema financeiro americano, mergulhado em uma grave crise. Mas o encontro, cujo objetivo era apenas cuidar dos detalhes do acordo fechado mais cedo no Congresso, terminou sem consenso. Após o encontro, visivelmente irritado, o presidente do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Christopher Dodd, disse à rede CNN que o impasse nasceu após alguns republicanos apresentarem uma nova proposta, que teria sido apoiada por McCain e estaria sendo avaliada pelo Departamento do Tesouro.

- Pareceu-me que se tratava mais de um pacote de resgate de John McCain. É um dia triste para o país - disse Dodd, acrescentando que espera que se possa alcançar um acordo, mas os "republicanos precisam decidir os que eles querem".

As negociações continuam hoje e podem seguir pelo fim de semana. A reunião realizada no fim da tarde de ontem ocorreu algumas horas depois que parlamentares do Senado e da Câmara dos Representantes anunciaram um acordo sobre as linhas gerais do pacote de resgate das instituições financeiras atingidas pela crise, que incluía, entre outras coisas, a divisão dos US$700 bilhões do pacote proposto pelo Departamento do Tesouro em três parcelas e a proteção dos mutuários atingidos pela falência do setor hipotecário do país, o que não estava previsto na proposta original do Tesouro.

Na abertura do encontro na Casa Branca, Bush expressou sua esperança de que um acerto sobre os pontos gerais do pacote pudesse ser alcançado "brevemente".

- Mergulharemos numa crise econômica séria no país se não aprovarmos (o pacote) - disse Bush. - Temos que fazer algo o mais rápido possível, e minha esperança é que cheguemos a um acordo brevemente.

Economistas criticaram pacote

Obama e McCain não falaram ao fim da reunião, porém, mais tarde, o candidato democrata disse à rede CNN que é importante não contaminar as negociações com a corrida eleitoral.

- Acho que eventualmente chegaremos a um acordo - disse Obama, que permanecerá em Washington acompanhando as negociações. - Ainda há trabalho a ser feito.

Ao fim do encontro na Casa Branca, o principal líder republicano do Comitê de Bancos do Senado, Richard Shelby (do Alabama) - que é opositor ferrenho do pacote proposto pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson -, disse aos jornalistas:

- Não creio que haja um acordo.

Ele disse que expressou suas preocupações durante a reunião, chamando a atenção para uma carta dos principais economistas do país que consideram ruim a proposta de Paulson:

- Vamos criar mais problemas. Estamos agindo apressadamente - disse ele, ao resumir o argumento dos economistas. - Eu levantei o problema na reunião. Provavelmente não serei mais convidado.

- Não houve um acordo completo - disse, por sua vez, o líder da maioria da Câmara, deputado democrata Steny Hoyer. - Acho que há consenso de como seguir adiante.

No entanto, o conselheiro da Casa Branca Ed Gillespie, que também participou da reunião, disse que não é de se estranhar que haja pontos de vista distintos e acrescentou que um acordo será alcançado em breve.

- Já houve muito toma-lá-dá-cá nesse processo. E será necessário um pouco mais.

Mais cedo, os membros do Comitê de Banco do Senado alinhavaram as linhas gerais do pacote de US$700 bilhões apresentado pelo Tesouro e pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O plano pretende resgatar as instituições assumindo os chamados empréstimos podres que derrubaram o sistema financeiro, a maior parte devido ao estouro da bolha do setor hipotecário americano.

Após três horas de reunião, Dodd anunciou que um acordo básico havia sido alcançado no Congresso. Entre os princípios acertados estavam a proteção dos recursos do contribuinte, ajuda aos mutuários, maior fiscalização do setor e limitação dos salários dos executivos de Wall Street. O acordo também incluía o parcelamento dos US$700 bilhões em três partes: Paulson receberia US$250 bilhões imediatamente e outros US$100 bilhões mediante aval da Casa Branca sobre sua necessidade concreta. Os US$350 bilhões restantes dependeriam de uma avaliação dos efeitos das duas primeiras parcelas no sistema financeiro.

EXPECTATIVA DE ACORDO SOBRE PACOTE FAZ BOLSA DE SÃO PAULO TER ALTA DE QUASE 4%, na página 26

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