Título: Mesmo cassado, petista faz comício em Recife
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 27/09/2008, O País, p. 12

João da Costa reúne aliados em sua defesa e acusa adversários de querer vencer no "tapetão"

RECIFE. Quatro dias depois da cassação do registro do candidato à sucessão municipal pela Frente do Recife, João da Costa (PT), os 16 partidos que o apóiam realizaram ontem o "comício da vitória", mas não conseguiram levar a Recife aquele que seria a principal atração da noite: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Do governo federal, só esteve presente à concentração o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro (PTB). A tônica dos discursos foi tentar mostrar ao eleitorado que a decisão judicial partiu da provocação de adversários, já que o petista é o favorito nas pesquisas de opinião.

Nas vias de acesso ao palanque montado na Praça Nossa Senhora do Carmo - um dos recantos mais populares do Centro -, os carros de som iam avisando: "Olha o tapetão, gente. O povo não é bobo não. Eles estão querendo ganhar no tapetão. No voto o Recife já escolheu João". Os carros de som também reafirmavam que, apesar da decisão judicial, o petista continua na disputa: "João da Costa é candidato a prefeito do Recife. Eles que nunca respeitaram a democracia, espalham notícias e panfletos mentirosos". José Múcio manteve o mesmo tom:

- Esta eleição já é nossa. O episódio (a determinação da Justiça) serviu de alerta para que nos reunamos mais. Significa dizer que eles reconhecem que pelo voto livre não chegarão à prefeitura.

A Polícia Militar e a organização do evento calcularam a concentração em 4 mil pessoas, e apenas um incidente marcou o comício: faltou som e a luz do palanque apagou, quando o candidato já estava no meio do seu discurso. Para que o público não desanimasse, a militância puxou o coro: "O povo quer, o povo gosta, o prefeito é João da Costa". O governador Eduardo Campos (PSB) afirmou que a decisão da Justiça não vai mudar o resultado das urnas.

- Acho até que o tiro vai sair pela culatra - disse ele, referindo-se à injeção de ânimo que o episódio motivou na militância.

- Não vamos dar atenção à má-criação de menino brigão, que perdeu eleição e não quer aceitar - afirmou o governador, acrescentando que as mudanças vão continuar e que a vitória é "vermelha" (a cor da campanha do PT).

O prefeito de Recife, João Paulo Lima e Silva (PT), afirmou que seu candidato foi injustiçado e lembrou episódios de administrações passadas, consideradas por ele muito mais graves do que as acusações feitas contra João da Costa - de abuso de poder político e econômico -, que terminaram levando à cassação do registro e inelegibilidade por três anos.

Ele lembrou que na última eleição municipal foram flagrados servidores da Casa Militar do Governo do estado (na gestão Jarbas Vasconcelos, PMDB) em missões duvidosas e que terminaram sendo flagrados pela polícia civil.

- Isso sim que é uso da máquina pública.

O prefeito também criticou a família de José Mendonça Filho (DEM) principal adversário do petista, que é acusada de ter tomado empréstimos oficiais para investir em um projeto agroindustrial que não deu certo.