Título: Bancos perdem R$2 bi em crédito externo
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 27/09/2008, Economia, p. 35

ABALO GLOBAL: Piora da crise internacional limita liquidez e encarece empréstimos a empresas e pessoas físicas

Recursos captados no Brasil crescem 2,8% e compensam limitações impostas por turbulência internacional

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. O Banco Central (BC) confirmou ontem que a crise financeira internacional está dificultando o acesso de bancos brasileiros a linhas externas, encarecendo os empréstimos. Entre os dias 1º e 15 deste mês, o volume de crédito com recursos externos no país recuou 2,6% em dólares. Ou seja, houve uma perda de aproximadamente R$2 bilhões que poderiam ser usados para financiar, sobretudo, as empresas. A retração veio com o agravamento da crise externa, o que limitou a liquidez e encareceu as operações. Ao todo, esses créditos somavam R$80,7 bilhões, quase 13% do total de crédito livre disponível no país (R$628,6 bilhões).

- Já estamos vendo impactos da crise - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

Quando se olha para o crédito com recursos captados dentro do país, no mesmo período de setembro, houve crescimento de 2,8%, mantendo o ritmo de meses anteriores e compensando as limitações por conta da crise. Com isso, o crédito total para pessoas jurídicas crescia 3,9% na primeira quinzena de setembro, até um pouco acima do resultado visto em agosto fechado, de 3,1%. Segundo Lopes, essa maior expansão ainda deve continuar no segmento empresarial, sobretudo com a busca por capital de giro.

Empréstimos em agosto chegaram a R$1,11 trilhão

Para pessoas físicas, por outro lado, já é possível notar desaceleração no crescimento de crédito, sobretudo por conta dos juros maiores e do menor fôlego nos consignados. Em 12 meses, esse crédito teve expansão de 29,2% - abaixo de patamar de 30% depois de vários anos -, inferior aos 30,7% vistos em julho. Em junho, o crescimento havia sido de 32,5%. No total, somando crédito livre e direcionado, existiam no país R$1,11 trilhão em empréstimos no mês passado, o equivalente a 38% do Produto Interno Bruto (PIB), valor recorde.

- Estamos mantendo a nossa projeção de chegar no fim do ano a 40% do PIB - acrescentou Lopes.

O uso de crédito consignado, com desconto em folha de pagamento, vem perdendo terreno sobretudo devido à imposição de um teto para os juros. Para os aposentados e pensionistas, por exemplo, o teto é de 2,5% ao ano e, com a trajetória de alta da Selic (hoje em 13,75% ao ano), acabam se tornando menos atrativos para os bancos. Segundo o BC, o volume de crédito consignado cresceu 0,9% em agosto, menos da metade da expansão do crédito pessoal registrada no período, de 1,9%.

Juros do cheque especial atingem 166,4%

Os custos maiores de captação continuaram puxando as taxas cobradas para o consumidor e as empresas. Pesa também a crise financeira, cuja liquidez internacional menor acaba pressionado os preços dentro do Brasil, já que a demanda por esses recursos está crescendo. Para pessoa jurídica, o aumento foi de 0,8 ponto percentual, para uma taxa de 28,3% ao ano em média em agosto. Na primeira quinzena deste mês a taxa estava em 28,4%. Para pessoa física, o salto foi de 0,27 ponto no mês passado, para 52,1% ao ano, sendo que em setembro já havia avançado para 52,8%.

O grande destaque ficou para os juros do cheque especial, que passaram de 162,7% em julho para 166,4% no mês passado. A única modalidade para pessoa física que recuou em agosto foi CDC - Crédito Direto ao Consumidor - para veículos, que passou de 33,5% para 33,3% ao ano.