Título: À espera das alianças
Autor: Tabak, Flávio; Mascarenhas, Gabriel
Fonte: O Globo, 29/09/2008, O País, p. 3

No último domingo de campanha, candidatos usam tom conciliador, já de olho no segundo turno

Flávio Tabak, Gabriel Mascarenhas e Waleska Borges

No último domingo de campanha, os candidatos a prefeito do Rio escolheram o mesmo cenário para tentar conquistar os votos que lhes faltam: a orla da Zona Sul carioca. E, apesar da disputa acirrada pela vaga no segundo turno, preferiram evitar ataques aos adversários. Com vistas às alianças para a etapa decisiva da eleição, Eduardo Paes (PMDB), Fernando Gabeira (PV), Jandira Feghali (PCdoB), Solange Amaral (DEM) e Chico Alencar (PSOL) caminharam no calçadão tentando não se envolver em polêmicas. Já Marcelo Crivella (PRB) optou por percorrer a Zona Oeste, e Alessandro Molon (PT) foi para outros bairros da Zona Sul.

Paes andou na Avenida Atlântica com o governador Sérgio Cabral, uma centena de cabos eleitorais e secretários estaduais. Com a mulher, Cristiane, e os filhos, Paes se mostrou empolgado com os resultados na reta final da campanha, mas preferiu não falar dos adversários. Deixou a tarefa para Cabral, que classificou Crivella, Gabeira, Chico, Jandira, Solange e Molon de pessoas "respeitáveis e de tradição". Antes, os dois simularam uma disputa de pênaltis na areia. O governador, de calças compridas sem sapatos, acertou uma bola na trave e fez um gol. Já Paes errou na primeira tentativa, mas fez o gol na segunda. Depois, tirou os sapatos e foi para o gol só de meias.

- Não é uma eleição como em Belo Horizonte, onde se tem três candidatos. É uma eleição em que temos seis muito fortes - avaliou Cabral, que disse ser favorável a parcerias, mas avisou que só vai discutir o assunto depois do resultado do primeiro turno. - Eleição e mineração, só depois da apuração.

Ainda durante o passeio no calçadão, Paes cruzou com Chico Alencar - que passou na lateral da pista e não trocou olhares com o candidato do PMDB - e Jandira, que quando viu o peemedebista se aproximando, saiu da pista interditada ao trânsito e foi para o calçadão conversar com freqüentadores dos quiosques. Paes disse que notou as bandeiras da adversária e explicou que a presença dos candidatos na praia é tradição no encerramento das campanhas.

- Vamos ter uma grande vitória. Estou muito satisfeito com nossas condições.

Jandira conversa com grupo do PT

Gabeira foi ao Arpoador se encontrar com artistas que organizaram um ato de apoio à sua candidatura, promovido pela apresentadora Cynthia Howlett e pelo ator Eduardo Moscovis. Outras figuras conhecidas, como Cissa Guimarães, o roteirista Moacyr Góes e o cineasta Flávio Tambellini, também apareceram. Ao som de matracas que repetiam o ritmo de seu jingle, Gabeira concordou com a tese de que Paes prefere ir ao segundo turno com Crivella, e não com ele.

- Havia na Assembléia Legislativa, por parte de alguns deputados do PMDB, essa impressão de que o segundo turno contra mim seria mais difícil do que com o Crivella.

Gabeira, porém, seguiu o tom conciliador de Cabral e Paes e preferiu não falar de outros candidatos para não prejudicar alianças posteriores:

- Não posso raciocinar com hipóteses. Tenho que estar no segundo e, para isso, vou mobilizar os votos de consciência que nós temos. Esta semana só vou me pronunciar sobre a luta para chegar ao segundo turno. O momento é de respeitar as candidaturas, reconhecer que ainda há um nível de possibilidades para todos e caminhar para o segundo turno. Se eu for, a gente vai falar com todos (os candidatos).

Eduardo Moscovis disse que foi dele a idéia de promover o encontro. Sua mulher, Cynthia Howlett, enviou e-mails para apenas 15 pessoas.

- A idéia era fazer coisa pequena. Depois que lemos um e-mail de apoio do Nelson Motta, decidimos falar com as pessoas. O Gabeira entrou em contato com a gente e deu certo. Sabemos que a coisa é muito feia. Sempre fui muito desiludido com o que é apresentado. É a primeira vez que nos metemos em política. Agora temos um candidato em quem a gente crê, alguém bacana - disse Moscovis.

Na Praia de Copacabana, Jandira também não fez ataques a adversários, embora tenha dito que é a única candidata legítima das camadas populares da cidade.

- Estamos fazendo campanha na Zona Sul, mas predominantemente na área popular do Rio, Zona Oeste e subúrbio. Até porque poucas candidaturas representam esse campo. O problema é ter identidade com eles, esta é a cristalina diferença entre minha candidatura e as de alguns outros que estão por aí. Não tenho problema pessoal com nenhum deles.

Jandira também confirmou que há movimento de parte do PT para apoiá-la ainda no primeiro turno.

- É uma corrente espontânea do PT, não estamos indo lá provocar. Existem pessoas que entendem a necessidade de ter alguém do campo popular no segundo turno, com coerência e biografia. Há espontaneamente o apoio (de petistas). Mas isso é uma questão que vocês têm que conversar com eles.

Solange caminhou por apenas 50 metros na Praia de Copacabana. A candidata disse ainda acreditar que tem chance nas eleições, embora oscile entre 3% e 4% nas pesquisas:

- Vamos acelerar o que a gente já vem fazendo. Avançar, aprofundar, conversar com as pessoas, mostrar a campanha. Estamos gravando os dois últimos programas eleitorais.

Alessandro Molon fez carreata pelas ruas da Gávea, Lagoa, Jardim Botânico, Leblon, Ipanema, Copacabana e Leme. O candidato disse que seu partido tem bons resultados na fase final da campanha.

- O PT é um partido de chegada e vamos mostrar isso no próximo domingo. Esse é o momento de todos darem um pouco mais, sobretudo fazendo o boca a boca, que pode ser decisivo.

Crivella foi o único que fez ataques diretos. E o alvo foi Eduardo Paes. Em carreata na Zona Oeste, Crivella afirmou que os policiais militares e médicos da rede estadual de saúde estão cansados do governador Sérgio Cabral, e que uma possível vitória de Paes, candidato apoiado pelo governo do estado, significará a manutenção das atuais políticas de segurança pública e saúde do Rio.

Crivella não falou com a imprensa, mas durante o discurso afirmou que ele e Eduardo Paes vão para o segundo turno:

- Hoje, só há dois candidatos no páreo. O restante está fora do jóquei.

Apenas cinco carros formavam a comitiva de Crivella, que visitou Pedra de Guaratiba, Vila Piraquê, Ilha de Guaratiba, Feira de Campo Grande e Carobinha. Crivella voltou a dizer que Paes é o candidato dos ricos, e ele, o dos pobres.

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