Título: Erros estratégicos dos governistas
Autor: Torres, Izabelle;
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2009, Política, p. 3

CONGRESSO

Planalto e parlamentares da base aliada se ¿esquecem¿ de votar projetos importantes que poderiam amenizar os efeitos da crise. E dizem que a culpa é da oposição

-------------------------------------------------------------------------------- Izabelle Torres e Flávia Foreque Da equipe do Correio Carlos Moura/CB/D.A Press - 10/2/09 Ronaldo Caiado: ¿O absurdo é responsabilizar a oposição por não aprovar projetos (contra a crise)¿ A certeza de que a crise financeira mundial chegou ao Brasil deixou à mostra falhas cometidas pelo governo no modelo desenhado para o funcionalismo, assim como a inércia do Congresso Nacional em votar projetos que poderiam servir para amenizar os efeitos de uma possível recessão, como a reforma tributária e o Cadastro Positivo com o nome dos bons pagadores. Na conta do governo pesa o arrependimento pelas promessas de reajustes para os servidores da União. De acordo com o Orçamento aprovado em dezembro, a despesa com a folha este ano será de R$ 169 bilhões: um aumento de 13% em relação ao que foi gasto em 2008. O valor é quase o dobro do que prevê um projeto editado pelo próprio Executivo, que impõe limite para o crescimento da folha de pessoal da União em 1,5% ao ano mais a variação da inflação. A proposta foi esquecida tanto pelo governo quanto pelo Congresso, que não demonstram interesse em desagradar ao funcionalismo público em ano pré-eleitoral.

Na agenda esquecida do governo também consta outra proposta que pouco anima a detentores de mandatos eletivos às vésperas de uma eleição: o projeto que cria o regime de previdência complementar para o funcionalismo público. O conteúdo das matérias não agradou aos aposentados. Por conta do lobby e das constantes campanhas da categoria, deputados e senadores têm adiado constantemente as discussões. ¿Acho que nessas questões o Planalto tem de dizer o que é ou não é prioridade¿, comenta o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).

Empurra-empurra O débito do Congresso com propostas que poderiam reduzir o impacto da crise também não é pequeno. Por conta das divergências políticas, base aliada e oposição travam um empura-empurra, em busca de responsáveis para a dificuldade de aprovar propostas como: a reforma tributária; a criação de um cadastro com os bons pagadores; a medida provisória que cria novas regras para o parcelamento ordinário de débitos tributários, e até a proposta que prevê a repatriação de capitais enviados ilegalmente para o exterior. ¿A culpa dessa inércia é das divergências políticas. Está claro que o mais importante é a reforma tributária. Mas a oposição insiste em atrapalhar. Esse tipo de postura pode dificultar a solução para a crise¿ comenta o relator da reforma, Sandro Mabel (PR-GO). ¿Meu relatório sobre o cadastro positivo está pronto. Mas tem de haver acordo para outras propostas que trancam a pauta. Isso tem sido difícil¿, opina Maurício Rands (PT-PE).

O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), rebate as acusações. Para ele, a crise deixou claro que o governo errou ao inchar a máquina pública contando com uma arrecadação que não virá. ¿Eles fizeram dessas questões um palanque. Prometeram, aprovaram e agora não terão como pagar. O absurdo é responsabilizar a oposição por não aprovar projetos que agora eles acham que teriam ajudado na crise. A lista é imensa, mas eles não fizeram nada. Por quê?¿, indaga.