Título: Trata-se de uma nacionalização parcial das instituições
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 29/09/2008, Economia, p. 17

O ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas acredita que o pacote será bem recebido pelos mercados. Para ele, "não há um plano B": o resgate de US$700 bilhões é a única alternativa para tirar os EUA da crise financeira. Em sua avaliação, a medida é uma "nacionalização parcial" dos bancos. Para o Brasil, diz ele, o BC pode pensar em não mais subir juros.

Fabiana Ribeiro

O plano de resgate de US$700 bilhões deve resolver a crise financeira americana?

CARLOS THADEU DE FREITAS: Não há outra alternativa. Esse plano tem de funcionar: não há um plano B. Mas não é uma solução que vem da noite para o dia. Deve ser um processo que levará pouco menos de um ano. No Japão, a crise demorou dez anos para se resolver, pois não houve compra pelo Tesouro.

Como o mercado deve receber o plano?

FREITAS: Os mercados devem receber bem a notícia. As bolsas, como caíram muito, podem ter uma recuperação. Haverá uma destravada nas expectativas do mercado de crédito e menos pânico na economia americana. O plano é uma luz no fim do túnel.

Há garantias para esse resgate?

FREITAS: A participação do Tesouro dá uma garantia de que as instituições financeiras não vão quebrar. Trata-se de uma nacionalização parcial das instituições. É preciso saber, porém, como será essa participação acionária e como calcular o valor do patrimônio líquido desses bancos. Dar satisfação ao Congresso pode tornar mais lentas as ações do pacote.

Haverá efeitos imediatos sobre o crédito?

FREITAS: A ajuda financeira deve fazer com que o mercado de crédito fique menos travado, mesmo sabendo que o processo de compra pelo Tesouro não será rápido nem único. Com a liquidação do Lehman Brothers, as operações de crédito pararam e os saques de fundos de investimentos dos bancos começaram. O plano deve fazer com que muitas instituições sejam financiadas. E elas, por sua vez, podem continuar a financiar os consumidores. O pacote pode fazer com que a economia real seja menos afetada. Mas, num primeiro momento, não vai acabar com os juros altos, a volatilidade ou a escassez de crédito.

E o Brasil será afetado com o pacote?

FREITAS: O crédito está seco para todos os países que precisam de crédito. E isso não vai mudar de imediato. Com o crédito mais escasso, e mais caro, o BC pode ficar menos preocupado com o aquecimento da economia. Então, não faz tanto sentido subir mais os juros. Há espaço para dar uma trégua aos juros desde já.