Título: Oposição quer autonomias regionais
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Fonte: O Globo, 29/09/2008, O Mundo, p. 22

Estratégia seria a única forma de driblar leis da Constituição. Governo rejeita

QUITO. Já contando há semanas como praticamente certa a aprovação da nova Constituição, líderes de oposição do Equador se anteciparam e já cogitam lutar por uma estratégia alternativa que diminua pelo menos em parte os efeitos da Carta: a implantação de autonomias regionais no país. A proposta é mais forte nas duas maiores cidades equatorianas, a capital Quito e Guayaquil, ambas governadas por prefeitos opositores.

Em Guayaquil, principal centro econômico e industrial do país, o prefeito Jaime Nebot, maior rival político do presidente Rafael Correa, pretende se valer da grande rejeição da população local à nova Carta para legitimar uma campanha por mais autonomia. Todas as pesquisas apontam que o "não" deve vencer em Guayaquil por ampla margem de diferença.

- Não estamos falando de separatismo, isso seria estupidez, nem em desestabilização do país, mas a vitória do "não" em nossa cidade é um reflexo de que a região precisa de leis próprias para continuar se desenvolvendo. Precisamos de regras que se adaptem ao perfil da região, que é diferente das demais. Por isso, a autonomia é o melhor caminho a ser seguido - disse o prefeito.

Prefeito de Quito apresenta ainda hoje projeto de autonomia

Já o prefeito de Quito, Paco Moyano, disse que apresentará ainda hoje um projeto de estatuto de autonomia para a cidade. Na capital, no entanto, o "sim" para a nova Constituição deve ganhar, segundo as pesquisas.

- Será uma espécie de Constituição para todos os habitantes da capital. Uma maior autonomia permitiria a Quito assumir novas atribuições. Queremos que nos deixem trabalhar, queremos um país desenvolvido em todos os seus pontos. Não queremos um país com um patrão, com um amo ou um chefe - afirmou o prefeito.

A imprensa equatoriana tem publicado nos últimos dias editoriais temendo que a luta por mais autonomia se transforme em bandeira radical da oposição diante dos impasses políticos e prejuízos econômicos que a nova Constituição poderia acarretar, fazendo com que o Equador viva uma crise parecida com a da Bolívia. Analistas políticos, no entanto, afirmam que as chances de essas idéias prosperarem são mínimas, pois o governo de Correa tem muito mais controle do processo político do país que o presidente boliviano Evo Morales.

- O Equador não é a Bolívia. É um país menor e sem tantas diferenças regionais, isso já dificulta a exigência de autonomias. Além disso, a estrutura política do país é muito diferente. A oposição aqui não é tão raivosa quanto na Bolívia e o governo tem mais controle sobre o processo político - disse o cientista político e jornalista Alvaro Marques.

O governo equatoriano se limitou a dizer em nota que as leis do país não permitem estatutos regionais de autonomia.