Título: Candidato mostram distância da realidade do Rio
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: O Globo, 28/09/2008, O País, p. 8

Eles querem ser prefeito, mas erram preço de passagem, não sabem citar linhas de ônibus nem calcular IPTU

Gabriel Mascarenhas

Eles estão há 86 dias em campanha nas ruas para tentar ser prefeito do Rio. Mas demonstram ainda estar distantes do dia-a-dia do carioca comum, que usa ônibus, paga IPTU, anda de táxi, tem filho em escola municipal ou freqüenta hospital público. O senador Marcello Crivella (PRB), por exemplo, ao responder a teste feito pelo GLOBO, disse acreditar que a passagem de ônibus no Rio não passa de R$1,20.

¿ Parece que é R$1,10 ou R$1,20. Agora, lembro que sou candidato a prefeito, não sou candidato a cobrador ¿ disse, sem saber que o valor modal está em R$2,10.

Para mais ou para menos, transporte coletivo parece não ser mesmo o forte dos candidatos a prefeito do Rio. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Eduardo Paes (PMDB) também errou ao dizer que o carioca precisa de R$2,30 para se locomover de ônibus.

O GLOBO fez um questionário com 14 perguntas. Entre os sete mais bem colocados nas pesquisas, apenas Jandira Feghali (PCdoB) se recusou a responder. A equipe da candidata foi procurada, por telefone, nove vezes em dois dias, mas não conseguiu agendar a entrevista. Todas as perguntas foram feitas pessoalmente, e diretamente para o candidato.

Linhas de ônibus são um mistério

Apenas o candidato do PT, Alessandro Molon, conseguiu citar corretamente uma linha de ônibus que vá da Zona Sul à Rodoviária e outra que ligue a Zona Norte e a Central do Brasil. Paes admitiu não saber, enquanto Chico Alencar (PSOL) sugeriu a 174 ¿ linha extinta há anos ¿, e Fernando Gabeira, a 52, que a Secretaria municipal de Transportes disse desconhecer.

¿ O número? Caramba. Da Zona Sul, eu diria o 174 ¿ disse Chico.

Quando o meio de locomoção é carro ou táxi, o nível de conhecimento cresce. Apenas Paes disse não saber o valor da bandeirada. Os demais, se não acertaram em cheio, chutaram próximo dos R$4,30. E todos afirmaram que há cerca de 30 mil autonomias no Rio ¿ resposta exata. Menos Molon, que citou 20 mil. O pedágio da Linha Amarela (R$3,65) é outro problema ¿ nenhum dos candidatos cravou o valor correto.

¿ Tenho aquele negocinho (cartão de passagem livre, cobrado por boleto mensalmente). É R$1,90. É? ¿ desconversou Solange, que errou feio.

Cálculo do IPTU fora da cartilha

O martírio nas filas dos hospitais públicos é realidade distante para a maioria dos candidatos. Somente Chico Alencar e Gabeira disseram ter recorrido à rede pública de saúde há menos de um ano. Seus adversários não especificaram quando foram a uma unidade pública pela última vez. Apenas Solange citou uma experiência:

¿ Foi em mil novecentos e... Tem uns 11 anos. Sofri uma fratura e fui ao Miguel Couto.

Principal tributo municipal, o IPTU provocou respostas confusas dos candidatos. Nenhum deles lembrou, com precisão, o indexador usado para o cálculo do reajuste anual do imposto: o Índice de Preços ao Consumidor Especial (IPCA-E), divulgado pelo IBGE dia 15 de dezembro. Perguntado sobre como se calcula o reajuste, Gabeira vacilou:

¿ Se é comercial, tem que ser comercial. Se é residencial, tem que ser residencial. Mudança do IPTU é que provoca mudança de preço. Acho que controla pelo valor do imóvel, entende?

A remuneração do funcionalismo público da capital parece não constar da cartilha do ex-professor da rede pública de ensino Alessandro Molon. Segundo os conhecimentos do candidato do PT, os garis recebem R$900 por mês, e não os atuais R$589,18 (com adicional de insalubridade). Ele acertou, porém, o piso do professor ¿ R$1.106. Já Crivella disse acreditar que o contracheque de médicos, garis e professores varia pouco:

¿ (Ganham) R$600 ¿ disse. ¿ Cerca de R$600, R$700, R$800.

Quando ouviram o pedido do repórter para completar o refrão da clássica marchinha carnavalesca Vagalume, de 1954, uma síntese das mazelas cariocas, somente Chico Alencar e Gabeira conseguiram cantarolar: ¿Rio de Janeiro, cidade que me seduz... De dia falta água, de noite falta luz¿.