Título: Com Lula, Dilma já se prepara para embate
Autor: Lima, Maria; Fernandes, Diana
Fonte: O Globo, 28/09/2008, O País, p. 16

Preferida do presidente para 2010, ministra mudou comportamento e é uma das mais requisitadas nas campanhas

Maria Lima, Diana Fernandes e Chico de Gois

BRASÍLIA. A Dilma Rousseff gerentona, sisuda e durona que, no Planalto, brecava os pleitos de aliados considerados fisiológicos ou com os quais não concordava já não é mais a mesma. Está sendo moldada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo marqueteiro João Santana para mesclar características de "mãe do PAC" com a de possível candidata em 2010. Os resultados, em seis meses, são visíveis. A mais requisitada, depois de Lula, para caminhadas, comícios e carreatas de candidatos aliados, Dilma não chega a beijar criancinhas, mas incorporou o sorriso constante, a simpatia com políticos pidões e a descontração em eventos festivos realizados por governadores ou prefeitos que, invariavelmente, procuram agradá-la.

Em conversas mais reservadas, uma das preocupações da ministra é tentar desfazer a idéia, ou mito, como prefere, de que é apenas uma técnica, que não tem experiência na política nem jogo de cintura. Lembra que se formou na política, no combate à ditadura, e que só nunca disputou uma eleição:

- Na política não existe ninguém neutro. Não fiquei presa três anos na ditadura porque sou uma técnica.

Fernando Pimentel é um dos entusiastas de Dilma

Companheiro de militância de Dilma no Comando de Libertação Nacional (Colina), na época da ditadura, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), é um dos maiores defensores de sua capacidade política:

- Nós começamos a fazer política com 17 anos. Ela entende de política tanto quanto os melhores quadros do partido.

Maior incentivador de Dilma, Lula não expôs formalmente sua intenção a ela e ao PT. Avalia que oficializar essa preferência poderia não só bloquear a espontaneidade política da ministra como amarrar definitivamente o Planalto a um nome dois anos antes da eleição. Ela não assume que é candidata, mas admite que é uma possibilidade, e é puro entusiasmo:

- É absolutamente alegre fazer campanha no Brasil.

No início do ano, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), irritado com um veto de Dilma a um pleito do PMDB, lhe enviou de presente um bambolê com o recado de que, se quisesse ser candidata ao cargo de Lula, teria que adquirir jogo de cintura. Ele acha que deu certo:

- Nas caminhadas aqui no meu estado ela era outra pessoa, mais simpática, se permitindo falar mais sobre política. Subiu em um carro de som, pegou o microfone e falou com muita naturalidade. Ela tomou gosto.

Quando abordada sobre o caso do bambolê, Dilma diz que é outra lenda. E diz que, como gestora, continuará zelando pelo bem público.

As mudanças estão centradas no comportamento. Seu figurino mantém-se quase inalterado. Apesar de ter mudado o cabelo para um tom mais alourado e trocado as lentes fundo de garrafa para outras mais leves e claras, usa quase sempre terninhos sem muito charme, em azul, vermelho ou tons pastéis. Mas, já se permite usar conjuntos com blusas de estampas gritantes. Saia? Esqueça.

Um colar de pérolas de duas voltas é o acessório mais comum. Ou um colarzinho de ouro com brincos discretos. O batom é sempre muito vermelho. Longe do público, fuma algumas cigarrilhas por dia, em substituição aos três maços de cigarro que devorava até um tempo atrás. Mas não traga. E, à mesa, está sempre cuidando para evitar excessos e o conseqüente aumento de peso. Afinal, costuma dizer, está com 60 anos.

Quando perguntados que estilo é mais próximo do de Dilma, se o de Cristina Kirchner (Argentina), Michele Bachelet (Chile) ou da alemã Angela Merkel, os aliados não titubeiam: seu estilo é o do presidente Lula.

Ministra tenta imitar Lula, mas esbarra no estilo

Nos eventos públicos, o presidente faz piadinhas com o fato de ela estar numa superexposição planejada. Numa inauguração semana passada, Dilma discursou antes dele. Na sua vez de falar, Lula procurou seu texto escrito e não achou. Foi a deixa:

- A Dilma não se contentou em fazer o seu discurso e quer tomar o meu!

Na saída, Lula deu entrevistas e anunciou que Dilma também falaria. Como ela falou muito, ele voltou à carga:

- Dilma, chega, fala tchau e vamos embora.

Dilma não esconde que procura imitá-lo, mas esbarra no próprio estilo. Embora até copie frases do presidente, em seus discursos acaba enveredando pelo tom professoral. Sua fala é monocórdica, quase não se altera, diferentemente de Lula, que agita os braços, esbraveja, faz piadas. Quando fala para uma platéia de empresários ou intelectuais, Dilma tenta ser incisiva. Se o público é mais popular, como em inauguração de obras, elogia a presença feminina. E fala sobre números do PAC, do Bolsa Família, do Prouni.

Dilma está sempre colada em Lula, seja no corredor polonês formado onde param para cumprimentar e dar autógrafos a populares, seja no palanque. Nos palanques de atos do governo, há um ritual estudado para destacar sua presença. O mestre de cerimônias dá entonação grandiosa na voz para anunciá-la junto com Lula, arrancando aplausos para os dois. Quando vai falar, ela dá uma pausa para os aplausos e gritos de "Dilma presidente". Vez por outra, Lula comenta com os convidados:

- Quem fez sucesso foi a Dilma. Foi a mais aplaudida.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de olho na vaga de vice em 2010, é só elogios:

- A ministra tem uma extraordinária vocação política, tem o sentimento do povo.