Título: Continuísmo mostra sua força nas capitais
Autor: Braga, Isabel; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 28/09/2008, O País, p. 18

Pesquisas indicam favoritismo de prefeitos que tentam reeleição e de quem conta com a força das máquinas

Isabel Braga e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Na reta final da campanha eleitoral, as pesquisas indicam uma tendência do eleitor de apostar na continuidade. Os últimos levantamentos apontam uma eleição com raras caras novas nas capitais e reafirmam a força da reeleição, com prefeitos registrando índices recordes de intenção de votos. Dos 20 prefeitos de capitais que disputam a reeleição, 12 devem ganhar no primeiro turno e outros sete vão, com chances, para o segundo turno. O único claramente rejeitado pela população é o prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), em terceiro lugar e sem chance de ir para o segundo turno, segundo as pesquisas.

Vivem uma disputa mais acirrada os prefeitos José Fogaça (PMDB), de Porto Alegre; João Henrique (PMDB), de Salvador e Gilberto Kassab (DEM), de São Paulo. Mesmo nas outras seis capitais onde não há reeleição, o apoio da máquina municipal ou estadual influencia a disputa. O favoritismo de João da Costa (PT), em Recife, e de Márcio Lacerda (PSB), em Belo Horizonte, são exemplos de candidatos que nunca disputaram uma eleição majoritária, mas aparecem em primeiro lugar com o respectivo apoio do prefeito e do governador.

Também no Rio de Janeiro, o apoio explícito do governador Sérgio Cabral (PMDB) levou o candidato Eduardo Paes (PMDB) a ir para a liderança.

- Tem o uso da máquina, mas também o uso da máquina que produziu bons resultados. Se tem a máquina, mas o eleitorado acha que o resultado foi ruim, não vota. Usualmente, quem está com a máquina na mão sai em vantagem. A reeleição é a única chance de avaliar o prefeito. Se não não fez bem, vamos trocar por outro. Agora, o uso do máquina é corriqueiro - avalia o cientista político e professor da Universidade de Brasília, David Fleisher.

Equilíbrio entre grandes partidos

O quadro das capitais indica poucas novidades. Além de Márcio Lacerda e João da Costa, desponta na eleição em Natal uma jornalista, filha de políticos, mas nova na política: Micarla de Sousa (PV). Ela está em primeiro lugar, desbancando a petista Fátima Bezerra. Em Belém, outra jornalista tenta ir para o segundo turno: Valéria Pires Franco (DEM), mulher do deputado Vic Pires Franco (DEM).

A eleição mostra um equilíbrio entre os principais partidos nas capitais. O PT lidera em sete das 26 capitais, com chance de vencer em cinco no primeiro turno. O PMDB lidera em cinco capitais, com chance de vitória já em pelo menos duas. O PSDB lidera em quatro, com chance de vencer em todas no primeiro turno. O PSB lidera em quatro e pode ganhar em três, já no próximo domingo. O PTB lidera em duas - pode ganhar já em Manaus. Outros quatro partidos lideram em uma capital cada: PCdoB, PP, DEM e PV.

A vitória em São Paulo é considerada estratégica por PT, PSDB e DEM. A previsão é que só haja definição no segundo turno. Enquanto o PSDB está em situação confortável em Curitiba, com a provável reeleição de Beto Richa, vive situação delicada em São Paulo, com o risco de não passar ao segundo turno.

O PMDB aposta todas as fichas numa vitória no Rio, além da reeleição, em primeiro turno, de Íris Rezende, em Goiânia, e Nelsinho Trad, em Campo Grande. Já o PT, apesar do favoritismo em São Paulo, corre o risco de ficar fora da disputa em Porto Alegre. A capital gaúcha é simbólica para o PT, que comandou a cidade por 16 anos e nunca ficou fora do segundo turno.