Título: Brasil depende menos do humor de estrangeiros
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 28/09/2008, Economia, p. 36

ABALO GLOBAL: Na Rússia, que está entre as líderes na dependência externa entre emergentes, Bolsa caiu 42% no ano

Participação no país é de 35,3%. Fundos de investimentos europeus e americanos ainda são maioria no mercado

Felipe Frisch

As fortes quedas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) nos últimos meses têm sido justificadas pela forte saída de investidores estrangeiros, grandes participantes do mercado de ações nacional. Mas, em termos de exposição ao mau humor externo, o percentual de participação estrangeira na bolsa brasileira é inferior ao de boa parte dos outros países chamados emergentes. Do grupo chamado "Bric" (Brasil, Rússia, Índia e China) no mercado, apenas a China - que tem restrições à entrada de investidores de fora - perde para o Brasil quanto ao percentual dos investidores de fora do país.

A bolsa russa, com 57,15% de participação de estrangeiros, supera com folga os 35,3% da Bovespa, que parecem até modestos. Em Mumbai, na Índia, o peso do dinheiro que vem de fora é de 37,29%. Num grupo de oito bolsas de países emergentes, o Brasil ficou na quinta posição quanto à fatia de estrangeiros. O levantamento foi feito pelo GLOBO com base nos dados das bolsas. Muitas não divulgam dados por tipo de investidor, como a Nyse Euronext - que controla as bolsas de Nova York (Nyse), Paris e Lisboa, entre outras. A Bovespa não divulga a nacionalidade.

Os principais forasteiros em países emergentes ainda são grandes fundos de investimento americanos e europeus, avalia Reinaldo Grasson, sócio de área de fusões e aquisições da Deloitte. Mas os fundos soberanos (governamentais) de países da Ásia começam a ter participação relevante, principalmente como o "investidor estrangeiro" nos mercados ditos desenvolvidos.

Dependência de estrangeiros tem crescido em emergentes

A velocidade da desvalorização das ações parece mesmo ter relação com a participação de investidores estrangeiros, que tiveram fortes perdas nos Estados Unidos por exemplo. A Bolsa russa acumula queda de 42,87% no ano. No entanto, não é só isso que faz uma bolsa cair. A dependência externa da Bolsa de Xangai é menor, mas nem por isso as quedas foram pequenas. No ano, o índice Shanghai SE acumula queda de 56,40%, a maior do grupo.

Em algumas bolsas européias a exposição ao investidor estrangeiro é ainda maior, devido à integração com a própria vizinhança. Na Bolsa de Frankfurt, a participação externa é de 73%, sendo que 48% são do Reino Unido, 15% da França e 5% da Holanda. Já em Londres, como é exportador de recursos, a participação é menor: 8,89%.

Ao longo dos anos, as bolsas de emergentes têm aumentado a dependência externa. Na bolsa de Hong Kong, a fatia subiu de um percentual de 36% em 2005, para os 43% atuais. Na Bolsa brasileira, o pedaço do bolo que é exportado também tem crescido: era de 21,4% em 1994 e de 25,1% em 2001. Isso ajuda a explicar por que as quedas diárias são mais violentas nas bolsas de países como Brasil, Rússia e México, do que nos países onde se origina a crise atual - em Nova York, o índice Dow Jones cai 15,99% no ano. Se diminui o apetite dos estrangeiros pelo risco, o primeiro lugar de onde tiram dinheiro é dos países emergentes, por padrão considerados menos estáveis.

Para Fábio Susteras, economista do private banking do Banco Real, se a crise piorar, a tendência é o percentual de investidores estrangeiros nos países emergentes diminuir.

- Eles já estão indo para títulos públicos (do governo americano). É possível que haja uma reversão, dependendo do sucesso do pacote americano. Aí, vamos começar a ver a volta do investidor - avalia.