Título: Assentamentos desmatam mais
Autor: Alencastro, Catarina; Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 30/09/2008, O País, p. 3

Ritmo do desflorestamento da Amazônia subiu 133% em agosto; Incra reage à divulgação

Catarina Alencastro e Soraya Aggege

Num mesmo dia, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que o ritmo do desmatamento da Amazônia subiu 133% em agosto na comparação com julho, com 756,7 quilômetros quadrados de floresta devastados, e o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, informou que seis assentamentos de reforma agrária do Incra encabeçam a lista dos cem maiores desmatadores da Amazônia. Ao todo, segundo o Minc, o Ibama aplicou multas de R$265,6 milhões no Incra por "desmatar e danificar" 223 mil hectares da Floresta Amazônica.

A lista dos cem maiores desmatadores estava prometida desde fevereiro pelo ministério. A divulgação provocou reação imediata do presidente do Incra, Rolf Hackbart, abrindo uma crise interna no governo. Rackbart alegou que os desmatamentos denunciados são antigos, ainda da década de 90. Mas Minc disse ter recebido a informação do Ibama de que os desmatamentos do Incra são bem mais recentes, e anunciou a criação de uma força-tarefa com o Ministério Público Federal para processar os criminosos ambientais.

Com isso, ficou em segundo plano a denúncia de que a área de floresta desmatada em agosto equivale à metade do tamanho do município de São Paulo e a quase duas vezes o território de Cabo Frio. Em julho, tinham sido destruídos 323,9 quilômetros quadrados. O Pará é o estado com o maior índice de desmatamento, pelo terceiro mês consecutivo: 435 quilômetros quadrados, 57% do total. Em segundo lugar, Mato Grosso teve 229 quadrados de novos desmates, seguido por Rondônia, com 30 km2, e pelo Amazonas, com 29 km2.

Minc culpa eleição por desmatamento

De manhã, Minc alegou que foram as campanhas eleitorais as responsáveis pelo novo aumento na área desmatada. Segundo o ministro, em época de eleição os políticos afrouxam a fiscalização para não perderem votos, e há um relaxamento no combate ao desmatamento. Para o ministro, a criação da polícia do meio ambiente vai ajudar nesse sentido:

- Nenhum prefeito ou governador quer ser antipático. A turma do Ibama vai para a frente, mas tem que ter uma Polícia Militar na cobertura, porque nesses locais está todo mundo com o dedo no gatilho.

Ao se comparar agosto com o mesmo mês em 2007, o aumento do desmatamento chega a 228% (foram devastados 230 quilômetros quadrados em agosto de 2007). Segundo o Inpe, só nos últimos 12 meses já foram desmatados 8.673 quilômetros quadrados de florestas na Amazônia, quase oito vezes a área do município do Rio. Em comparação com os 12 meses anteriores (de setembro de 2006 a setembro de 2007), o desmatamento cresceu 83%, já que naquele período atingiu 4.731 quilômetros quadrados.

Como contraponto à má notícia sobre o desmatamento, Minc anunciou uma lista de 12 ações de combate ao crime ambiental. A impunidade, disse ele, está no cerne desses crimes. Já sobre o fato de o programa de reforma agrária estar no topo da lista dos desmatadores, Minc disse que é preciso dar mais sustentabilidade ambiental aos assentamentos que, segundo ele, não contam com plano de manejo:

- Falta sustentabilidade ambiental na reforma agrária.

Apesar disso, Minc tentou diminuir o tom das críticas aos colegas de governo. Lembrou que, em parceria com o ministério do Desenvolvimento Agrário, vai anunciar hoje o primeiro plano de manejo de assentamento, numa área destinada à reforma agrária, em Rondônia. Ele disse que as propriedades privadas desmataram três vezes e meio a mais que os assentamentos destinados à reforma agrária:

- A gente não gosta nem de dizer que não tem desmatamento na reforma agrária, nem de dizer que a reforma agrária, embora não esteja com a sustentabilidade ambiental que deveria, é o maior vilão da história.

A força federal de combate ao crime ambiental prevê a contratação de 3.000 novos agentes, como O GLOBO antecipou sábado. O ministro admitiu a falta de pessoal no Ibama para fiscalizar crimes ambientais. À tarde, Minc citou também o aumento da atividade agropecuária no Pará e a pressão fundiária na região como vilões ambientais. Ele disse que fez um levantamento da média de desmatamento nos anos em que há eleição e verificou um aumento em torno de 2.500 quilômetros quadrados.