Título: Lula elogia padronização da língua
Autor: Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 30/09/2008, O País, p. 13

Presidente assina no Rio acordo ortográfico, que entra em vigor em janeiro

Fábio Vasconcellos

No dia em que se celebrou o centenário da morte do escritor Machado de Assis, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, no Rio, o decreto que estabelece o cronograma de vigência das mudanças previstas no acordo ortográfico das Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). O acordo passa a valer em janeiro de 2009. Mas as duas normas ortográficas - a atual e a prevista no acordo - serão aceitas até 2012 em vestibulares e concursos públicos. Até 2010, todos os livros didáticos deverão ser editados já com as mudanças.

Na cerimônia para assinatura do decreto, realizada na Academia Brasileira de Letras (ABL), Lula defendeu as mudanças ortográficas. Para o presidente, o acordo aproxima o Brasil das suas raízes históricas:

- Quero destacar o imprescindível resgate dos nossos laços substantivos com a África, em particular com a África de língua portuguesa, que para nós representa mais, muito mais do que uma prioridade geopolítica. Diz respeito à nossa alma, à nossa identidade como nação multiétnica e multicultural, ao próprio destino da civilização brasileira.

Segundo o presidente, o acordo ortográfico permitirá uma melhor relação entre os países de língua portuguesa: - Como avançar nesse rumo sem fortalecer a nossa base lingüística comum? Como difundir em cada país a rica literatura dos demais, e sua variada produção intelectual, sem a adequada padronização da língua escrita?

Lula lembrou uma série de programas do governo federal para incentivar a leitura. Ao final, o presidente disse que Machado de Assis é um exemplo para os brasileiros, pois enfrentou dificuldades e se transformou no maior escritor do país.

- Machado venceu, a bem dizer, pelo seu próprio talento individual, mas quantos outros gênios da raça foram impedidos pela indigência material de surgir e de se desenvolver? Os direitos sociais, a vida digna, não garantem o talento, mas podem fazê-lo florescer.

Acadêmicos comentaram as mudanças. Marcos Vilaça disse o acordo é uma oportunidade de unificar a língua entre os países:

- O português tem dois dicionários: o da nossa academia e o da academia de Lisboa. Agora, isso vai ser unificado. Todos os países vão escrever da mesma forma. Só posso ver isso com simpatia.

Arnaldo Niskier afirmou que as mudanças na grafia podem ser um pretexto para o país escrever melhor. Carlos Heitor Cony, por sua vez, classificou o acordo como improdutivo.

- Pessoalmente sou contra. Acho que a língua, como a fotografia, é feita pelo povo, não adianta o governo tentar disciplinar. No caso do Brasil, que fala português, e de outros países, acho que o acordo pode ajudar, mas para mim é improdutivo.