Título: Bancos: linhas a pessoa física são mais afetadas
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 30/09/2008, Economia, p. 29

Para Febraban, empresas podem ter de trocar financiamentos externos por domésticos

Aguinaldo Novo

SÃO PAULO. A piora nas condições externas deve agravar o quadro de crédito oneroso e mais escasso no Brasil nos próximos meses, avalia a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). A percepção do setor é que as linhas para pessoa física deverão ser as mais afetadas. No caso dos financiamentos para empresas, que dependiam em grande medida de linhas externas, o natural é haver uma substituição por crédito doméstico.

- A tendência do sistema é ser mais criterioso na liberação de financiamentos, dado o cenário externo ainda incerto - afirmou o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg.

Segundo ele, a intensidade do aperto no crédito vai depender dos desdobramento da crise, que chegou a seu ápice com o veto da Câmara ao pacote nos EUA. Sardenberg, porém, disse que o pânico de ontem não pode ser usado como referência para novas projeções:

- Em momentos como este, o mercado tende a exagerar, e as apostas pessimistas prevalecem. Mas não se pode deixar levar pelo curto prazo. Ainda aposto em alguma solução, que vai levar o mercado gradativamente à normalidade.

Por enquanto, o setor bancário mantém a previsão de crescimento de 23% a 24% para a carteira de crédito este ano. Para 2009, a primeira estimativa é uma variação de 20%.

Dados divulgados na sexta-feira passada pelo Banco Central (BC) já indicam essa desaceleração. Em 12 meses até agosto, o crédito para pessoas físicas teve expansão de 29,2%, patamar ainda elevado, mas inferior aos 30,7% de julho e aos 32,5% de junho.

Sardenberg rechaçou a possibilidade de quebra de bancos nacionais, como ocorreu nos EUA e na Europa. Segundo ele, os bancos locais operam sob maior controle e não dependem de uma única fonte de receitas para sua atividade:

- Os bancos brasileiros não têm nível de alavancagem grande ou risco elevado em carteira. O Brasil não vai escapar dos efeitos da crise. Mas a crise vai bater no nível de atividade econômica, que será menor no próximo ano.

Um ranking divulgado pela consultoria Interbrand mostrou que três bancos brasileiros são as marcas mais valiosas da América Latina: Itaú (com US$5,962 bilhões), Bradesco (US$5,213 bilhões) e Banco do Brasil (US$4,429 bilhões). Na quarta e na quinta posições estão a cimenteira Cemex, do México, e a Claro.