Título: Reforma do sistema, só em 2009
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 30/09/2008, Economia, p. 27

Pacote financeiro, se vier a ser aprovado, será apenas um paliativo

WASHINGTON. Ainda que o pacote financeiro venha a ser aprovado, com as modificações exigidas pela ala que o rejeitou ontem, permanecerão as incertezas no mercado até que surja uma segunda iniciativa de alcance mais amplo. O motivo é que o atual projeto trata de remediar temporariamente uma situação, sem corrigir as falhas que levaram o país à sua maior crise depois da Grande Depressão. Aguarda-se, portanto, um pacote específico de reforma do sistema, estabelecendo regras mais rígidas, além de um monitoramento mais rigoroso das atividades do setor.

Trata-se de uma percepção generalizada entre acadêmicos, investidores e analistas profissionais. Segundo eles, o pacote financeiro pode ajudar a acalmar os mercados, a curto prazo, desde que esteja correto o cálculo do custo: US$700 bilhões. Teme-se, no entanto, que o volume necessário seja até o dobro - o que aumentaria o déficit americano e alimentaria a inflação. O motivo é que até aqui os bancos registraram cerca de US$400 bilhões em créditos não honrados por seus tomadores, referentes a hipotecas.

- Se os bancos também tiverem que abrir mão de mais empréstimos podres, acumulando prejuízos com cartões de crédito, financiamentos corporativos, empréstimos em geral, o total poderá passar de US$1,5 trilhão - alertou Nouriel Roubini, economista que leciona na Universidade de Nova York.

As dúvidas persistem porque até o momento não se sabe exatamente como funcionará o resgate do setor financeiro:

- O que não queremos é que seja um subsídio disfarçado que mantenha vivos bancos insolventes - disse Kenneth Rogoff, da Universidade de Harvard.

Além de pairar essa nuvem negra sobre o mercado, teme-se que a demora em estabelecer novas regras de procedimentos e de controle para o setor contribua para que surjam novos problemas idênticos a médio prazo. O problema é que a reforma do setor só poderá ser implantada, na prática, no próximo governo. O próprio Congresso calcula que apenas depois da posse do novo presidente, em 20 de janeiro, poderá concluir uma investigação sobre quais as falhas que levaram à crise atual e, então, começar a estruturar a nova regulamentação. (José Meirelles Passos, correspondente)