Título: Analistas prevêem crescimento abaixo de 3%
Autor: Frisch, Felipe; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 30/09/2008, Economia, p. 25

Agravamento da crise reduziria expansão em 2009. BC deve afrouxar política de juros

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A forte piora no mercado internacional após a rejeição, na Câmara dos EUA, do pacote de socorro, deve causar uma retração econômica ainda maior no mundo e, conseqüentemente, no Brasil. Por isso, especialistas já prevêem uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) abaixo de 3% em 2009, com um certo afrouxamento na atual política monetária implementada pelo Banco Central (BC). Até poucos dias, o mercado apostava em mais duas altas de 0,5 ponto na Selic - hoje em 13,75% ao ano - até o fim do ano mas, agora, esperam apenas uma, de 0,25 ponto.

- Sobre o crescimento do PIB, vai depender do setor externo, mas é bem possível que tenha impacto negativo em 2009. Antes, eu trabalhava com expansão de 3,5%, mas pode ficar em 3% ou até abaixo disso - afirma o economista-chefe do Itaú, Tomas Malaga.

O relatório Focus, do BC, divulgado ontem, também mostra expectativa de crescimento menor. As estimativas para 2009 passaram de 3,60% para 3,55%, após três semanas de estabilidade.

Em abril, o BC começou a puxar a Selic para controlar a inflação. O objetivo era trazer as expectativas de inflação de volta ao centro da meta em 2009, de 4,5% pelo IPCA, com margem de dois pontos para mais ou para menos - este ano está acima de 6%. A crise internacional, no entanto, pode ajudar o BC na calibragem dos juros.

- Tudo vai depender da situação externa. Podemos ter aumentos menores nos juros e talvez o ponto de parada seja já nas próximas reuniões. Com a crise, a maior dificuldade de obtenção de crédito no mercado internacional repercutirá no mercado doméstico, estabilizando o consumo sem a necessidade de os juros aumentarem - afirma o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, que, por enquanto, mantém a projeção do PIB em 2009 em 3,6%, mas com viés de baixa.

Relatório de Inflação prevê IPCA maior ano que vem

As estimativas do Relatório Trimestral de Inflação, do BC, já ficaram para trás por causa do agravamento da crise. Os dados levam em consideração o cenário até 12 de setembro, ou seja, não pegou a pior fase, iniciada com a quebra do Lehman Brothers, no dia 15.

O relatório prevê IPCA de 6,1% este ano pelo cenário de referência (juros a 13,75% e dólar a R$1,80), contra 6% no anterior. A projeção de 2009 passou de 4,7% para 4,8%. Para o PIB, a projeção deste ano passou de 4,8% para 5%, mas não há estimativas para 2009.

Já o Focus elevou a projeção de déficit em conta corrente, de US$34,4 bilhões para US$36 bilhões, e reduziu a do saldo da balança comercial, de US$13 bilhões para US$12,45 bilhões. Sobre a inflação, a projeção para 2009 passou de 4,97% para 4,90%. Para este ano, recuaram de 6,23% para 6,14%.