Título: Dólar comercial chega a subir 8%, para R$2
Autor: Frisch, Felipe; Rangel, Juliana
Fonte: O Globo, 30/09/2008, Economia, p. 25

BM&F muda regra para contratos futuros. Mercado teme mais perdas de exportadoras com apostas no câmbio

Felipe Frisch e Juliana Rangel

RIO e BRASÍLIA. Os negócios com o dólar ontem demonstraram que boa parte do pessimismo está mesmo relacionado às empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A moeda já abriu o dia em alta de 4,20% no câmbio comercial, a R$1,929, pressionada pelos negócios no mercado futuro. O dólar chegou a subir 8,10% e a bater R$2, às 14h46min, mas fechou o dia a R$1,966, com valorização de 6,21%, o maior ganho diário desde 29 de janeiro de 1999, em meio à maxidesvalorização do real.

Com a valorização do dólar no mercado à vista, a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) acabou tendo que alterar o seu limite de variação da cotação em um só dia de 5% para 8%, nos contratos com vencimento em novembro. Sem a mudança, uma alta acima de 5% acionaria o circuit breaker e interromperia os negócios. No mercado futuro de dólar, os investidores projetam a cotação da moeda em determinada data, quando a comprarão ou venderão pelo preço acertado. Quem aposta na queda investe em contratos de venda de dólar - assim, garante a venda por uma cotação acima da que acredita que estará valendo naquele dia no mercado à vista. E quem espera alta investe em contratos de compra, assegurando que vai adquirir a moeda por um valor abaixo do mercado.

Segundo operadores, muitas empresas estão correndo para compensar as perdas que tiveram com contratos futuros. A exemplo do que ocorreu com Aracruz e Sadia, outras exportadoras podem ter apostado na queda da moeda americana além do que precisariam. Dessa forma, não apenas se protegeram de uma eventual queda mais forte, mas se tornaram especuladores comuns. Essas empresas agora estariam comprando dólar no mercado futuro.

O aumento da procura do lado da compra acabou pressionando as cotações do dólar no mercado futuro e à vista, avalia Jorge Knauer, gerente de câmbio do Banco Prosper. Aproveitando-se do momento, alguns agentes pedem cotações elevadas para vender seus contratos e acabam puxando a moeda.

Com isso, começaram a surgir rumores de que empresas podem chegar a quebrar com a recente variação cambial, à semelhança do que ocorreu com os bancos Marka e FonteCindam, na maxidesvalorização de 1999. Uma perda da magnitude do prejuízo de R$760 milhões declarado pela Sadia na semana passada poderia significar a morte de algumas empresas, disse um operador.

- Falta liquidez no mercado futuro. Para comprar, você precisa de vendedor e ninguém quer ficar nessa ponta - avalia Sidnei Nehme, da NGO Corretora.

CSN e Suzano negam perdas com mercado futuro

Em fato relevante, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) negou que tenha operações acima de seus limites de proteção com derivativos de câmbio ou taxa de juros. Mais cedo, o JPMorgan havia dito que a empresa poderia ter perdido US$600 milhões com contratos indexados aos preços de seus recibos de ações (ADRs) negociados em Nova York. Também em comunicado, a Suzano negou que tenha a prática de investir altos valores no mercado de derivativos de câmbio. Gerdau e OHL emitiram comunicado na mesma linha.

COLABOROU: Gustavo Paul