Título: Paes negocia o apoio do PT
Autor: Lima,Ludmilla de; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 01/10/2008, O País, p. 3

Parte do partido cogita Crivella, se este for ao 2º turno; Gabeira evita nacionalizar campanha

Ludmilla de Lima, Maiá Menezes e Fábio Vasconcellos

De olho em nomes do PT, como o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Faria, e no ressentimento de petistas contra o candidato a prefeito do Rio Fernando Gabeira (PV) - que tenta ultrapassar Marcelo Crivella (PRB) nas pesquisas -, o candidato do PMDB, Eduardo Paes, já negocia com o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma adesão no segundo turno das eleições. Anteontem, ele se reuniu com o ex-deputado Vladimir Palmeira, do grupo político de Lindberg. Para atrair o PT, Paes conta com o desconforto dos quatro principais grupos do partido com Gabeira. Caso se confirme um segundo turno com a presença de Crivella, Paes terá mais dificuldade para atrair todo o PT, que tem segmentos simpáticos ao candidato do PRB.

Diante do fraco desempenho do petista Alessandro Molon nas pesquisas - na última rodada do Datafolha, seu índice foi 5% e, no Ibope, 2%-, os petistas planejam para a próxima segunda-feira, após a eleição, uma reunião sobre o segundo turno. Hoje, o PT é aliado nacional e estadual do PMDB.

- Independentemente do resultado no domingo, o PT terá posição e candidato nas eleições municipais - disse o presidente do PT, Alberto Cantalice, frisando que não é hora de pensar em nomes porque Molon ainda está na disputa.

Lindberg, que lidera as pesquisas eleitorais e pode vencer no primeiro turno em Nova Iguaçu, será garoto-propaganda de Paes, se o adversário for Gabeira. Com Crivella, porém, a decisão é incerta. O apoio do senador a uma candidatura petista ao governo estadual, em 2010, pode fazer Lindberg ter um comportamento mais discreto na campanha.

Gabeira quer distância de 2010

O clima beligerante em relação a Paes - ex-relator da CPI dos Correios e um dos detratores do governo Lula durante as investigações - não impede as conversas. Mas ainda desperta animosidade no grupo mais próximo ao presidente, o Construindo um Novo Brasil (ex-Campo Majoritário), do qual faz parte o ministro da Igualdade Social, Edson Santos. A um sinal verde do Palácio do Planalto, esse grupo deve optar por Crivella. Na correlação de forças do PT, a tendência de Santos controla cerca de 30% do partido no Rio. A opção por Crivella também teria o apoio do grupo ligado ao deputado federal Carlos Santana, que representa 15% do PT.

Já os que preferem Paes, numa eventual disputa contra Gabeira, dizem que a vitória do candidato do PV abriria a porta para o crescimento, no Estado do Rio, do governador de São Paulo, José Serra, que pretende disputar a Presidência em 2010.

A nacionalização da campanha a prefeito é uma armadilha que Gabeira quer evitar. Ao explicar o motivo da ausência de líderes nacionais em sua campanha de rua, disse que não quer vínculos com a disputa de 2010:

- A questão central da minha tática é não fazer das eleições do Rio um microcosmo da eleição presidencial. Por achar que as características da eleição municipal são diferentes e para impedir também que o clima de 2010 envenene dois anos de trabalho que temos pela frente - disse Gabeira, que ontem foi à Fundação Bio-Rio, na UFRJ, na Ilha do Fundão.

Ontem, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), foi a Macaé e Niterói para ajudar candidatos tucanos, mas não dividiu agenda com Gabeira. Também não há eventos marcados com Serra, que ontem foi a Pernambuco com aliados. Aécio disse que está à disposição de Gabeira. Sobre 2010, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse que Gabeira tem "grande peso político". Ele negou a a existência de qualquer constrangimento relacionado à estratégia do candidato do PV.

A disputa pelo apoio do PT está nos planos de Jandira Feghali (PCdoB). Em passeata ontem à tarde no Centro, a candidata reuniu líderes nacionais do PCdoB, como o ministro do Esporte, Orlando Silva, e o senador Inácio Arruda (CE). Os dois pediram aos eleitores de esquerda que votem em Jandira. Arruda disse que o Rio corre o risco de ter um segundo turno entre o ex-tucano (Paes) e um tucano verde (Gabeira).

- Na semana decisiva, Jandira é o único nome da esquerda que oferece condições de passar ao segundo turno. Esse é um diagnóstico que quem faz não sou eu. Dirigentes do PT fazem isso - afirmou Orlando Silva.

Silva disse que não há constrangimento em receber o apoio do ex-ministro José Dirceu, que, em seu blog, convocou partidos de esquerda a apoiar Jandira. A candidata, por sua vez, afirmou que a carta de Dirceu diz respeito apenas ao PT. Anteontem, o site dela chegou a divulgar a carta de Dirceu a favor de sua candidatura, logo retirada do ar devido à repercussão ruim no PT, no PDT e no PSOL. Jandira nega que tenha defendido a retirada de qualquer candidatura:

- Não é convocar a militância, nem o partido (PT), mas convocar o eleitor que sempre votou na esquerda. É convocar o eleitor para garantir a ida para o segundo turno, porque a única candidatura viável desse campo é a minha.

Candidato evita falar sobre acordo

Paes, que ontem comemorou o ano novo judaico no Hotel Sheraton, organizado pela Congregação Judaica do Brasil, não quis falar sobre a possível aliança com o PT para o segundo turno. Molon, em corpo-a-corpo no Largo do Machado, disse desconhecer alianças do PT com outros candidatos.

Já Crivella - que também foi a uma celebração judaica, na Associação Religiosa Israelita (ARI), em Botafogo - disse, ao participar em Inhaúma de evento com motoboys, que está em plena negociação para alianças no segundo turno:

- Já falei com todos os partidos e candidatos, sempre naquela conversa: quem for para o segundo turno recebe o apoio do outro. São conversas que combinamos entre nós, de não divulgarmos para evitar especulações. Tudo está caminhando muito bem.