Título: Serra critica a queima de reservas
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 01/10/2008, Economia, p. 30

Governador de SP diz que país corre o risco de repetir erros dos anos 70

Letícia Lins e Aguinaldo Novo

RECIFE e SÃO PAULO. O governador de São Paulo fez duras críticas ontem à postura do governo de tratar o Brasil como "uma ilha de tranqüilidade em um mar de turbulências". Ele condenou o uso de reservas para manter o real valorizado e disse que o país tende a ser atingido pela crise.

- Em que proporção, ainda não sabemos. Mesmo sendo de um partido de oposição, torço para que o efeito seja o menos adverso possível. Haverá efeito sim, até porque temos duas fragilidades: o déficit em conta-corrente do balanço de pagamentos e o gosto exagerado pelos gastos correntes e não pelos investimentos - disse, acrescentando que essas são duas "vulnerabilidades" que saltam à vista.

Serra esteve ontem no Palácio do Campo das Princesas para assinar acordos de cooperação com o governador Eduardo Campos (PSB).

Para Serra, a imagem de um Brasil imune à instabilidade internacional pode ser comparada à mesma da década de 70, com a segunda crise do petróleo e a explosão dos juros americanos:

- Naquela época vinha-se com essa teoria, que demonstrou ser falsa. E ela também é falsa hoje, alertou o governador, ao lembrar que embora o país possa ter reservas, o fato não pode ser considerado suficiente para garantir segurança quanto ao futuro.

O governador emendou:

- Temos reservas, mas o governo está começando a gastá-las para manter o real claramente supervalorizado. Aliás, hipervalorizado. Isso é um equívoco da gestão econômica do governo federal, que tem promovido desnecessariamente uma sobrevalorização exagerada. (...) Eles vão ficar subindo juros mais ainda para segurar o dólar, vão começar a queimar reservas e isso não é uma coisa boa.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que o governo acompanha com "grande seriedade" os desdobramentos da crise e está preparado para adotar as "medidas necessárias".

- Continuamos como parte da economia internacional. Enfrentamos todos os problemas que outros países estão enfrentando e que enfrentaremos. Mais importante do que nunca é manter a qualidade da política econômica - afirmou ele, durante debate em São Paulo.

Meirelles disse que, se necessário, o governo vai agir "com serenidade", evitando "medidas precipitadas, tomadas no calor dos acontecimentos". O presidente do BC disse ainda que o país está em condições favoráveis porque soube "tomar partido de um momento benigno da economia mundial" e arrematou:.

- Temos um colchão de reservas que acumulamos nos últimos anos e que é de extrema utilidade.