Título: Lula diz agora que a crise é muito séria e o Brasil pode correr riscos
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 01/10/2008, Economia, p. 30

Presidente afirma que turbulência "é uma das maiores que o mundo já viu"

Chico de Gois

MANAUS. Depois de afirmar que a crise financeira não atravessaria o Atlântico e que ela era problema do seu colega George W. Bush, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem que o Brasil pode correr riscos por não saber a extensão dos efeitos da turbulência. Ele procurou tranqüilizar a população e o mercado interno, afirmando que o momento é de acreditar no país e que o Brasil não será vítima, como foi em outras ocasiões. No entanto, reconheceu que a crise é uma das maiores que já viu.

- A crise é muito séria e tão profunda que não sabemos o tamanho. Talvez seja uma das maiores crises que o mundo já viu. A diferença é que, nas crises de dez anos atrás, nossos países estavam muito fragilizados economicamente. Quando os EUA espirravam, Venezuela e Brasil ficavam com pneumonia - disse Lula. - Não é que não corramos risco. Podemos correr risco, mas estamos sólidos, mais precavidos. Nosso sistema financeiro não está envolvido com o subprime (hipotecas de alto risco).

Lula disse ainda que a turbulência exige "juízo e responsabilidade". Mas, quando, perguntado se estaria preocupado com a situação dos mercados, voltou a dizer que "neste momento, quem está mais preocupado com isso é o Bush."

- Nós fizemos a lição de casa, eles não. Eles passaram três décadas dizendo o que tínhamos de fazer e não fizeram. E a ironia do destino é que a crise é dos países ricos.

Lula nega criação de gabinete para avaliar crise

Lula negou que tenha criado um gabinete especial para tratar do assunto, mas disse que conversa freqüentemente sobre o tema com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ele comparou seu grau de preocupação ao de alguém que tem um amigo no hospital e reconheceu que acompanha a crise com certa apreensão.

- Poderia dizer que hoje sou um homem tranqüilo. (Mas) estou apreensivo, porque o Brasil é um país exportador, e queremos continuar crescendo.

As declarações foram dadas durante entrevista coletiva, da qual participou também o presidente venezuelano, Hugo Chávez. Lula teve reuniões com ele, com o presidente boliviano, Evo Morales, e o equatoriano Rafael Correa.

Chávez defendeu a criação do Banco do Sul como forma de fazer frente à crise financeira mundial e, apesar de ter culpado o governo "irresponsável" americano pela crise, afirmou que não é hora de "ideologizar" o assunto.

Morales disse que "os pobres não devem pagar a crise pelos ricos" e ironizou o pacote americano. Afirmou que "o capitalismo não é nenhuma solução para a humanidade."