Título: Bank of China vai operar no Brasil
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 01/10/2008, Economia, p. 33

CMN altera regras para aumentar financiamento do BNDES à Petrobras

Henrique Gomes Batista e Geralda Doca*

BRASÍLIA, SÃO PAULO e NOVA YORK. Em meio à crise financeira mundial, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou ontem a entrada do Bank of China no Brasil - o primeiro banco chinês no país - e permitiu que o BNDES dobre os financiamentos concedidos à Petrobras. A ampliação é necessária para garantir os investimentos que a estatal terá de fazer na exploração do pré-sal. Pelos dados do primeiro semestre, isso significa abrir uma linha de R$12 bilhões para a estatal.

Com sede em São Paulo, o Bank of China se chamará Banco da China Brasil e terá como função estimular o comércio sino-brasileiro e os investimentos chineses no país. Seu capital inicial será de US$60 milhões e atuará tanto como banco comercial como de investimentos.

- Esse banco, fundado em 1912, figura como nono no ranking mundial. O Bank of China, estatal, está presente em 26 países, e a filial brasileira será a primeira na América do Sul - disse Luiz Edson Feltrin, chefe do departamento de organização do sistema financeiro do Banco Central (BC).

Deutsche prevê impacto da crise em bancos brasileiros

Já a mudança no BNDES dá um tratamento especial à Petrobras na concessão de empréstimos. As regras do BC estabelecem que nenhum banco pode expor mais de 25% de seu patrimônio de referência. A Petrobras disputava esse teto com as demais estatais ao tomar financiamento. Isto porque a empresa, assim como as demais estatais são, em última análise, do mesmo dono - a União. Antes da decisão do CMN, o BNDES poderia emprestar a todas elas, juntas, no máximo R$12 bilhões, 25% de seu patrimônio de referência no fim do primeiro semestre, de R$48,6 bilhões.

Com a mudança, a Petrobras terá um limite próprio, ou seja, poderá obter sozinha R$12 bilhões, além de igual limite para o total da União. Além disso, o BNDES não precisará computar o total de ações da empresa que possui nesse limite de crédito. Esta será a única exceção, segundo Sérgio Odilon dos Anjos, chefe-adjunto do Departamento de Normas do Sistema Financeiro do BC:

- Acreditamos que este novo enquadramento auxiliará a empresa tanto nesta nova frente (a exploração do pré-sal), como para outros projetos de expansão do setor petrolífero.

O CMN aprovou também a ampliação do prazo para adesão à renegociação da dívida dos produtores, prevista na lei 11.775 (medida provisória 432). O prazo venceu ontem e foi prorrogado para o dia 14 de novembro. Segundo o Ministério da Fazenda, a prorrogação tem por objetivo permitir o maior número possível de adesões de agricultores, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

Ontem, o Deutsche Bank estimou que a crise financeira americana poderá levar os bancos brasileiros a enfrentar uma deterioração de ativos, uma alta nos custos de financiamento, maior concorrência e interferência governamental. "Os efeitos indiretos da crise financeira nos EUA podem gerar pressões adicionais para um ambiente operacional já difícil no Brasil", escreveu o analista Mario Pierry, do Deutsche Bank, em nota enviada a clientes.

(*) Com Bloomberg News