Título: Brasil pode se resguardar
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 01/10/2008, Economia, p. 33

GONZAGA BELLUZZO

SÃO PAULO. A crise hoje é muito pior que a de 1929, diz o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp. O governo brasileiro, alerta ele, precisa agir para reduzir os impactos, adotando medidas que evitem o estrangulamento do crédito.

Qual o efeito da crise financeira?

BELLUZZO: A crise chegou ao coração da economia, o sistema de crédito, afetado pela desconfiança que tomou conta das instituições que geram crédito. Isso provavelmente vai desatar um processo de ajustamento da renda e do emprego, ou seja, da produção. Normalmente, isso se chama recessão, e não se sabe a intensidade desse processo recessivo.

E como fica o Brasil? BELLUZZO: A economia global já está em recessão. Resta saber a rapidez com que o governo americano restabelecerá o crédito para impedir que se aprofunde. Se for muita rápida e profunda, dificilmente o Brasil vai deixar de sentir os efeitos. Só que o Brasil tem formas para se resguardar. O Brasil tem um sistema financeiro que não se envolveu na loucura dos créditos hipotecários, é um sistema bem mais regulado que o americano, e o nível de reservas internacionais é alto.

Para o presidente do BC, o governo está preparado para a crise.

BELLUZZO: Ele pode ter uma intervenção mais estrita no mercado de crédito, fazendo bancos públicos atuarem para contrabalançar a retração do crédito no setor privado, canalizando recursos para pequenas e médias empresas, garantindo parte para o consumo. E o governo deve abastecer o mercado de liquidez, não mexer no juro. (Lino Rodrigues)