Título: Por que pacotes apenas pioram o pânico
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 01/10/2008, Economia, p. 35

Na eterna batalha entre o medo e a cobiça que puxa os mercados financeiros, não é difícil ver quem está vencendo. Mas por que o medo? Por que, quando os governos não estão conseguindo apagar o incêndio com bilhões de dólares, euros e libras? Por que, quando Gordon Brown diz que fará ¿o que for preciso¿? Por que, quando Bush proclama que ¿os EUA estão seriamente comprometidos em restaurar a confiança e a estabilidade dos mercados financeiros¿? E por que ¿ quando quase todo correntista no mundo desenvolvido recebeu uma garantia, implícita ou explícita, de que seu dinheiro está a salvo ¿ ainda tememos novas corridas aos bancos? Uma resposta pode ser as preocupações com respeito à eficácia do pacote ¿ se passaria no Congresso e, se passasse, se funcionaria. Pior ainda, investidores sabem o preço que governos e contribuintes terão que pagar.

Há razões para olhar pelo lado positivo. Pode ser que as perdas dos contribuintes venham a se mostrar pequenas. Otimistas apontam que o plano New Deal nos anos 30 (a um custo de US$1,2 trilhão em preços atuais) e o resgate das instituições financeiras que captam depósitos de poupança para oferecer crédito, nos anos 90, (a um custo de US$125 bilhões) trouxeram pequenos lucros no fim.

Da mesma forma, deste lado do Atlântico, vozes de calmaria apontam para a pequena chance que mesmo uma minoria das hipotecas do Bradford & Bingley não seja paga.

Investidores da China, de Cingapura, do Golfo e da Rússia ficarão felizes em comprar mais bônus do Tesouro dos EUA, títulos da Grã-Bretanha e de outros governos europeus.

Ainda que o pânico seja mais potente. A preocupação é que governos dos EUA e da Europa vão sofrer com o peso de todas as dívidas. Além das dívidas pessoais, os contribuintes estão agora com mais uma camada de dívidas do setor público. Isso significará menos consumo e menor crescimento, e talvez recessões mais prolongadas e profundas.

A segunda preocupação é a confiança que o mundo deposita no dólar. Pode haver uma corrida do dólar? Alguns fundos soberanos estão irritados pelas perdas de bilhões. Eles não parecem dispostos a perder mais e podem começar a ¿diversificar¿ o risco. As consequências são imprevisíveis, mas serão fortes para as economias americana e mundial.

Os EUA e a China, o maior devedor e o maior credor mundial, respectivamente, estão apoiando-se um no outro como dois gigantes bêbados. Este pode não ser um arranjo sustentável.

O que está claro é que nenhuma quantidade de dinheiro de contribuintes, nenhum voto no Congresso nem qualquer discurso de presidente pode restaurar inteiramente a confiança que foi eliminada do sistema durante um ano de ¿brutal destruição capitalista criativa¿.

Confiança é o ingrediente mágico que faz nosso sistema funcionar, o que permite a criação de riqueza e que os ¿espíritos animais¿ de Keynes decolem. E, como vimos dos bilhões eliminados dos mercados, simplesmente não tem preço. Sem confiança, há apenas pânico.

SEAN O¿GRADY é colunista do ¿Independent¿