Título: Eleitorados dos dois têm perfis diferentes
Autor: Vasconcellos, Fábio e Duran, Sergio
Fonte: O Globo, 02/10/2008, O País, p. 3

Gabeira tem mais votos entre mais jovens e com renda mais alta, o contrário de Crivella.

Uma das razões para o crescimento contínuo de Fernando Gabeira (PV) no Datafolha é sua boa performance entre os eleitores de renda acima de dez salários mínimos: ele foi de 32% para 38% das intenções de voto neste segmento. Gabeira também subiu entre os eleitores com renda de cinco a dez salários mínimos, indo de 19% para 26%. Entre os mais pobres (até dois salários mínimos), o candidato do PV variou de 6% para 8%.

Os dados mostram a diferença de perfil do eleitorado de Gabeira e seu maior adversário para ir ao segundo turno, o candidato do PRB, Marcelo Crivella. Gabeira é mais forte entre os eleitores mais jovens, de mais escolaridade e de maior renda. Já Crivella tem intenções de voto mais consolidadas entre o eleitorado mais idoso, que estudou menos e tem renda baixa.

Entre os que ganham mais de dez mínimos, Crivella caiu de 9% para 4%, e Jandira Feghali (PCdoB) foi de 13% para 12%. Crivella subiu entre os que recebem até dois salários (de 25% para 27%) e entre os que têm renda de cinco a dez mínimos (10% para 16%). Jandira caiu entre os que ganham de cinco a dez salários (14% para 10%).

Eduardo Paes (PMDB) caiu entre aqueles que ganham até dois salários mínimos, de 33% para 28%, mas subiu de 29% para 32% entre os que ganham de dois a cinco salários mínimos. Outra queda de Paes foi entre os eleitores que ganham de cinco a dez mínimos: de 28% para 27%. Entre os mais ricos, Paes foi de 21% para 25%.

Na divisão de eleitores por escolaridade, Paes caiu entre os com ensino fundamental (de 33% para 31%) e médio (29% para 28%), e subiu sete pontos entre os de nível superior (de 22% para 29%). Já Gabeira subiu seis pontos entre os de nível superior (de 26% para 32%), um ponto entre os de ensino médio (de 15% para 16%), e caiu um entre os de nível fundamental (de 7% para 6%).

Apesar de ter um nicho de eleitores de classe baixa, Crivella caiu entre os que têm até o ensino fundamental, indo de 27% para 25%. Ele desceu também entre os de nível superior, de 7% para 6%.

Quando os eleitores são divididos por faixa etária, Gabeira mantém sua tendência de crescimento entre os mais jovens: subiu de 20% para 22% nos eleitores entre 16 e 24 anos, e de 15% para 22% entre 25 a 34. Também foi de 10% para 16% entre eleitores de 35 a 44 anos. Só caiu na faixa acima de 60 (15% para 14%).

Na divisão por sexo, uma curiosidade foi a queda de Jandira entre as mulheres, já que ela tem um discurso de representante desse setor: de 14% para 12%. Já Gabeira cresceu entre as mulheres de 12% para 15%.

Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, o destaque vai para o crescimento contínuo de Gabeira:

- É o único que tem crescimento constante desde o início de setembro, enquanto Paes, Crivella e Jandira mantêm trajetória estável.

Paulino diz que pesa a rejeição contra Crivella (38%), alta até entre os evangélicos (12% entre os pentecostais, 21% entre os não pentecostais):

- Ele também é rejeitado por metade dos católicos. Isso pode ser um empecilho, porque os católicos são maioria na cidade. Gabeira tem só 22% de rejeição deles.

Para Paulino, o crescimento de Gabeira não só entre os mais ricos, mas também entre os que ganham entre cinco e dez salários, é um indício de que o candidato do PV está atingindo outros setores da sociedade, como a classe média:

- Não dá para garantir, mas dá para pensar que onde Jandira perde, é natural que o Gabeira ganhe, pois neste momento os eleitores estão praticando voto útil.

O diretor do Datafolha chama atenção para o fato de que muitos eleitores de Gabeira ainda não gravaram o número do candidato:

- Entre os eleitores do Paes, 42% não sabem o número da urna; entre os do Crivella, 46% não sabem; e entre os do Gabeira, 62% não sabem. Se a diferença entre Crivella e Gabeira ficar acirrada como está, esse desconhecimento do número pode ajudar o Crivella. Essa é a fragilidade do Gabeira.

Sobre as críticas feitas por Jandira contra o Datafolha ontem, Paulino disse que "não existe a menor hipótese de manipulação de números do Datafolha".

oglobo.com.br/pais/eleicoes2008