Título: Lula monta estratégia para manter base unida
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 02/10/2008, O País, p. 12

Planalto vai montar "gabinete de eleição" e oferecer recompensas para aliados derrotados.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a montar ontem sua estratégia para o segundo turno nas capitais e grandes cidades. O Palácio do Planalto irá deflagrar uma operação ainda na noite de domingo, assim que começar a sair os resultados do primeiro turno, numa espécie de gabinete da eleição para aparar arestas, oferecer recompensas e fazer composições entre aliados com o objetivo de diminuir seqüelas políticas para a governabilidade no Congresso.

Numa avaliação preliminar feita ontem, ficou praticamente definido que o presidente Lula deve entrar com força total na campanha da ex-ministra Marta Suplicy (PT), em São Paulo. Lula e seus articuladores políticos estão certos de que o prefeito Gilberto Kassab (DEM) chegará maior no segundo turno, e que, por isso mesmo, a presença do presidente passa a ser considerada fundamental para neutralizar a eventual vantagem do candidato do DEM.

A idéia é que Lula participe ativamente das eleições no segundo turno onde candidatos da base aliada estejam em disputa com partidos de oposição no plano nacional. Mesmo assim, a regra deve ter exceção. Há uma torcida discreta de setores palacianos para que o senador Marcelo Crivella (PRB) consiga ir para o segundo turno na disputa no Rio. Mas a avaliação realista no núcleo do governo é de que Crivella começou a desidratar nesta reta final da campanha.

No Rio, se a disputa for entre Eduardo Paes (PMDB) e Crivella, Lula deve ficar de fora em respeito ao governador Sérgio Cabral (PMDB). Num eventual cenário entre Paes e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), Lula será mais cauteloso ainda. Mesmo que Cabral peça, é difícil o presidente atender ao pedido, por causa do passado recente de Paes como opositor ferrenho do governo petista durante o escândalo do mensalão.

Ontem, durante a reunião de coordenação política, o próprio Lula assumiu o compromisso de que estará em Brasília no final da tarde de domingo para acompanhar os resultados do primeiro turno. Ele votará pela manhã, em São Bernardo. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, irá comandar o "gabinete da eleição" direto do Planalto.

Lula deve disparar telefonemas para aliados na noite de domingo para cumprimentar os vencedores, mas, principalmente, para demonstrar solidariedade com os derrotados. Com a ação direta do presidente, o Planalto espera resolver parte dos problemas que devem surgir no segundo turno e após a eleição.

Em Salvador, Lula só vai se for contra ACM Neto

Outros cenários locais também foram analisados. Em Salvador, Lula só irá no palanque de um aliado se o deputado ACM Neto (DEM-BA) estiver no segundo turno. Mas, numa disputa entre o atual prefeito, João Henrique (PMDB), e o deputado Walter Pinheiro (PT-BA), cenário que passou a ser considerado pelas últimas pesquisas, Lula deve ficar distante para evitar reações.

Já em Porto Alegre, apesar da grande pressão para que Lula assuma no segundo turno a campanha de Maria do Rosário (PT) ou de Manuela D"ávila (PCdoB), ele pode ficar de fora por causa do peso do PMDB, partido do prefeito José Fogaça, no seu governo.