Título: Minc critica modelo de reforma agrária
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 02/10/2008, O País, p. 15
Para ministro, forma adotada pelo Incra não favorece produtividade agrícola.
BRASÍLIA. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse ontem que o modelo de reforma agrária do Incra está superado. Depois de admitir que o Ibama poderá rever a lista com os maiores desmatadores da Amazônia, entre eles assentamentos do Incra, Minc criticou so modelo adotado atualmente para distribuir terras aos assentados - que, segundo ele, transforma os assentamentos em tabuleiro de xadrez.
Minc disse que transformar uma grande área em pequenos módulos de terra, a serem explorados separadamente por cada família, não favorece nem a produtividade agrícola nem a formação de corredores ecológicos:
- Esse modelo de tabuleiro de xadrez acho que é superado. Então a gente tem que realmente pensar nisso. Estamos querendo encontrar soluções conjuntas com o Incra - disse o ministro, que ainda se recupera do mal-estar causado no governo pela divulgação da lista que coloca o Incra no topo do desmatamento da Amazônia.
Minc explicou que a divisão do assentamento em pequenos lotes não permite que se faça uma produção coletiva, de forma a aumentar a produtividade, e também não permite que o governo faça um corredor florestal para dar sustentação à fauna e flora dentro do assentamento.
- Quando você levanta que está tendo problema de sustentabilidade, não é para jogar para baixo, é para corrigir e para dar um salto adiante. Eu quero uma reforma agrária ecológica. Acho que a melhor defesa da reforma agrária não é fingir que ela não tem problemas na Amazônia. A melhor defesa é aumentar a sustentabilidade ambiental da reforma agrária - disse.
Sobre as contestações que o Incra faz das vultosas multas que deve ao Ibama pelo desmatamento de 223,3 mil hectares em floresta amazônica no Mato Grosso, Minc disse que recebeu ontem um relatório preliminar e admitiu que algumas delas têm cabimento, como por exemplo, o fato de as coordenadas de um assentamento estarem erradas. Ele voltou a dizer, no entanto, que os dados comprovam que houve desmatamento superior ao permitido pela legislação ambiental em várias dessas áreas.
Classificando a si mesmo como autonomista, o ministro disse que, da próxima vez, lerá os levantamentos antes.
- Daqui para frente, eu verei a lista. Acho que houve um excesso, mas eu tenho esse espírito meio autonomista.
Minc não quis comprar briga com sua antecessora, a senadora Marina Silva (PT-AC), que terça-feira contestou algumas ações que ele vinha divulgando como novas. Em tom de desculpa, ele disse que sua gestão é de continuidade à de Marina, mas que, como a senadora "saiu atritada" com o presidente Lula, ele conseguiu desemperrar algumas questões que estavam paradas, como o Fundo de Mudança Climática.
- Muitas vezes existem trabalhos sendo feitos, mas, em determinado momento, é necessário um plus concentrado - afirmou.