Título: Crédito ao consumidor fica até 25% mais caro
Autor: Novo, Aguinaldo; Villas Bôas, Bruno
Fonte: O Globo, 02/10/2008, Economia, p. 31

Crise e alta da Selic elevam taxas de financiamento e encurtam prazos. Maior aumento é para automóveis.

Aguinaldo Novo e Bruno Villas Bôas

SÃO PAULO e RIO. Reflexo da crise financeira que tomou corpo em setembro, as taxas de juros para financiamentos no varejo tiveram aumento de até 25% no começo deste mês. Houve também redução de prazos de pagamento, que dependendo do bem financiado retrocederam a patamares de junho de 2005.

O aumento mais salgado de taxas veio no varejo de automóveis. Pesquisa feita pela consultoria MSantos mostra que alguns bancos passaram a trabalhar com juros de 1,8% ao mês, contra 1,45% de duas semanas atrás. A sondagem foi feita junto a seis grandes instituições (duas de capital nacional, três estrangeiras e uma ligada a uma montadora), que detêm 75% do mercado. No Rio, levantamento do GLOBO em cinco financeiras mostrou um aumento de 15% na taxa mensal de juros do crédito pessoal, nas últimas duas semanas, para uma faixa de de 8% a 11,9%. - É uma reação ao nervosismo no mercado - diz Ayrton Fontes, economista da consultoria MSantos.

O presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, confirma o reajuste de algumas linhas, mas diz que nem todo o setor mexeu nas suas tabelas. Segundo ele, as novas taxas refletem o aumento de custos para captação de dinheiro no mercado.

- Existe um aperto de liquidez, e os bancos passaram a ser mais seletivos nos empréstimos. O cenário é instável e as taxas poderão tanto cair como subir ainda mais, dependendo da crise.

A inadimplência dos bancos de montadoras oscila entre 3,6% e 3,7% do total de contratos, pouco acima da média história (3,4%). Montenegro diz que o número não é "preocupante" se comparado ao avanço das vendas no varejo, projetada para 24% neste ano.

A alta dos juros neste mês foi captada por pesquisa da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac). Considerando a taxa cobrada por bancos, financeiras e comércio, os juros médios para pessoas físicas passaram de 7,39% ao mês (o equivalente a 135,27% em 12 meses) para 7,45% (136,85%). Para empresas, a taxa foi de 4,27% (65,1%) para 4,33% (66,3%).

Financeiras reduzem prazo no crédito consignado

Em outra ponta, houve redução nos prazos de financiamento. No caso da venda de veículos, os prazos máximos caíram de 72 para 60 meses, patamar igual ao de março de 2006. No financiamento de outros bens (como linha branca e marrom, móveis, computadores), os prazos recuaram de 36 para 24 meses - voltando a junho de 2005.

- Antes da crise, a maioria dos anúncios de venda de carros estampava prazos de 60 a 72 meses. Hoje, fica de 36 a 48 meses - diz o vice-presidente da Anefac, Miguel Oliveira.

No Rio, o encolhimento dos prazos máximos também foi registrado em financeiras que operam o crédito consignado (desconto direto em folha de pagamento), que recuou de 60 para 48 meses. Segundo as empresas, neste caso não houve, no entanto, aumento nos juros praticados. O levantamento foi feito nas financeiras Cacique, Citi Financial, Fininvest, Finasa e GE Money na tarde de ontem.

Para o economista-chefe da Associação de Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Istvan Karoly Kasznar, também professor da FGV, a redução de prazos e aumento dos juros são uma tendência daqui para frente, resultado da conjuntura interna do país e sinais de piora da crise americana.

- Com o crédito mais escasso, faz sentido que as financeiras selecionem melhor para quem vão emprestar seu dinheiro e reduzam prazos. É uma forma de elas se ordenarem preventivamente - avaliou.

oglobo.com.br/economia