Título: Odebrecht diz que aceita condições do Equador
Autor: D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 02/10/2008, Economia, p. 34

Acordo tem pontos novos, mas mantém item da proposta entregue na semana anterior e rejeitada por Correa.

SÃO PAULO. A construtora Odebrecht anunciou ontem que aceitou as condições impostas pelo presidente do Equador, Rafael Correa, para manter seus negócios naquele país. Mas, em comunicado, a empreiteira lista cinco pontos do novo "acordo de compromissos" que mantêm alguns itens da proposta que fizera há uma semana, e que fora rejeitada pelo governo de Correa. A empresa manteve, por exemplo, a decisão de entregar US$43,8 milhões a um fiel depositário até que um perito internacional apure a responsabilidade pelos problemas na hidrelétrica San Francisco, que forçaram a paralisação da usina.

Correa exigia que a quantia fosse paga imediatamente, a título de multa por "lucro cessante" pelos três meses em que a hidrelétrica ficará desligada. A Odebrecht não informou se o governo equatoriano concordou em não receber o dinheiro até a conclusão da perícia.

Uma das novidades no acordo está no item em que, além de arcar com os custos de construção, a Odebrecht diz que será bancado o conserto dos equipamentos "eletromecânicos", que caberia à Alstom e à VaTech, fornecedoras e sócias no consórcio de construção da usina. A recusa das duas empresas em assinar o acordo proposto pela Odebrecht foi o estopim para que Correa decretasse, semana passada, o embargo de quatro obras da empresa, prendesse executivos e anunciasse a expulsão da construtora do país.

Os custos do conserto de San Francisco são de US$25 milhões. A Odebrecht informou ter estendido as garantia contra defeitos das obras civis e dos equipamentos de geração da usina.

A Odebrecht está no Equador há mais de 20 anos e tem projetos de US$650 milhões no país. A decisão de aceitar as condições do governo equatoriano ocorreu um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter se reunido com Correa, em Manaus. Depois da reunião dos presidentes, na terça-feira, a ministra das Relações Exteriores do Equador, Maria Isabel Salvador, afirmou que os problemas com a Odebrecht não deveriam ser entendidos como uma questão de Estado.

A diplomata não entrou no mérito da ameaça de Correa de não pagar os US$200 milhões emprestados pelo BNDES para financiar a construção da usina, tema tratado na reunião.