Título: Tráfico interrompido
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 12/03/2009, Brasil, p. 10

PF desbarata uma das maiores redes de venda de animais silvestres do mundo

-------------------------------------------------------------------------------- Edson Luiz Arte: Joelson Miranda/CB/D.A Press Da equipe do Correio

Em uma ação que teve a participação de 450 agentes em nove estados e em três países, a Polícia Federal colocou ontem um fim em uma das maiores redes de tráfico de animais do mundo ¿ até a noite, 72 pessoas haviam sido presas e a expectativa era fazer esse número chegar a 100. A Operação Oxóssi ¿ uma alusão à divindade africana que representa o senhor das matas e dos animais ¿ desmontou um esquema descoberto em janeiro de 2008, e que movimentava milhões de reais. Em um ano, sairam do Brasil ou foram parar em feiras clandestinas pelo menos 500 mil animais, incluindo pássaros, macacos, cobras, veados e onças- pintadas. Um tcheco, considerado um dos principais envolvidos, foi detido em um condomínio de luxo no Rio de Janeiro.

Os traficantes de animais atuavam em duas frentes: nas feiras do interior do Rio e no comércio ilegal no exterior, principalmente Portugal, Suíça e República Tcheca. No primeiro esquema, os animais caçados no Parque Nacional de Bocaina, em Paraty, eram vendidos nas feiras de Belfort Roxo, Honório Gurgel e Areia Branca, na Baixada Fluminense. Para Caxias, seguiam os animais ¿ principalmente pássaros em extinção ¿ vindos de Minas Gerais, Pará, Bahia, Paraná e São Paulo. Investigadores que trabalham no caso acreditam que a movimentação do grupo pode chegar a mais de R$ 20 milhões.

O braço estrangeiro dos traficantes ficava por conta do tcheco Tomas Novotny, que enviava aves para o exterior usando documentação falsa, além de ovos colados nos corpos de passageiros. Os animais eram traficados do Maranhão e saíam pela Bahia. A mercadoria seguia para Portugal e posteriormente para a República Tcheca e Suíça. Novotny foi preso em seu apartamento na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio, e fazia a movimentação financeira gerada pelo tráfico por meio da namorada, que mora em Belo Horizonte. A Polícia Federal, que ainda procura um português e dois tchecos, acionou a Polícia Criminalista Internacional (Interpol) para ajudar nas investigações.

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Nas mesas e nas feiras

Segundo o procurador da República no Rio de Janeiro Renato Machado, muitos dos presos já haviam sido detidos em outras ações também por tráfico de animais e caça clandestina. Por meio de interceptações telefônicas dos principais envolvidos, a Polícia Federal descobriu que os animais que estavam sendo vendidos nas feiras, principalmente na de Caxias, uma das cinco maiores do Brasil, não eram da Reserva do Tinguá, como se acreditava. Eles eram traficados de vários estados e chegavam ao Rio em caminhões de cargas e ônibus interestaduais. Além de serem vendidos nos mercados clandestinos, também foram comercializados em restaurantes de comidas exóticas na região dos Lagos.

Durante a operação, a PF fez várias apreensões de animais. Nas cidades baianas de Feira de Santana, Vitória da Conquista, Ibotirama, Cândido Sales e Brumado, seis pessoas estavam com 150 aves, muitas delas em extinção. Quatro prisões ocorreram em Belo Horizonte e Uberlândia e duas no Espírito Santo, incluindo um caminhoneiro que fazia o transporte dos animais da Bahia para a feira de Caxias. A maior parte das detenções ocorreu no Rio, onde 42 pessoas foram presas, incluindo cinco policiais militares.

A Operação Oxóssi foi deflagrada no Rio, Pará, Maranhão, Sergipe, Bahia, Minas, Espírito Santo, São Paulo e Rio Grande do Sul. Das 102 prisões preventivas decretadas pela Justiça Federal, até o fim da tarde de ontem 72 haviam sido cumpridas. Também foram realizadas 140 buscas e apreensões, inclusive no exterior. (EL)

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Feridos e famintos

Na Operação Oxóssi, a Polícia Federal encontrou com os traficantes de animais pássaros como tucanos, gaviões, araras, pavões e muitos filhotes de papagaios. Nos levantamentos feitos pelas autoridades, milhares de aves capturadas no meio da floresta não chegam vivas ao destino final, que é o mercado negro existente no Brasil e no exterior. Nas buscas feitas ontem no Rio, os agentes flagraram centenas de animais famintos e vários com as patas quebradas pelo confinamento precário em pequenos espaços.

A PF e o Ministério Público Federal não têm estimativas sobre os lucros dos traficantes e nem o volume de animais silvestres que são capturados clandestinamente e depois vendidos. Porém, pelos cálculos feitos durante a apuração, a avaliação é de que com os estimados 500 mil macacos, veados, cobras jararacas, onças-pintadas e pássaros vendidos a cada ano, o mercado negro rendia cerca de R$ 20 milhões para os traficantes. Na Feira de Caxias, por exemplo, um pássaro é vendido entre R$ 20 e R$ 50. No exterior, porém, o preço de uma arara-azul, que hoje está em extinção, varia em torno de 3 mil euros. (EL)