Título: Todos os cálculos levam ao Oeste
Autor: Lima, Ludmilla de; Magalhães, Luiz Ernesto
Fonte: O Globo, 03/10/2008, O País, p. 3

Disputa acirrada no Rio leva principais candidatos à região, que concentra 40% dos votos.

Etodos foram parar na Zona Oeste. Numa disputa acirrada pela vaga no segundo turno contra o candidato do PMDB, Eduardo Paes, Marcelo Crivella (PRB) e Fernando Gabeira (PV) baixaram cedo ontem na região, que concentra cerca de 40% dos votos da capital. E não ficaram sós: Paes também rumou para lá, além de Jandira Feghali (PCdoB), que diz acreditar ter chances.

Crivella apostou no discurso da cidade partida, dividida entre ricos e pobres. Em carreatas em Padre Miguel, Realengo e Campo Grande, ele repetia o mesmo argumento: ele teria os votos dos pobres, enquanto seus adversários Paes e Gabeira (sem citá-los), o dos ricos.

- Não vamos votar no candidato dos ricos, se não, não vai sobrar nada para nós - disse ele.

O discurso, no entanto, foi diferente quando ele parou para dar uma entrevista sobre as perspectivas para alianças, se passar ao segundo turno:

- Queremos alianças com todos os partidos. Precisamos unir do índio ao cardeal - disse Crivella, que é bispo licenciado da Igreja Universal.

Paes fala sobre vans

Eduardo Paes foi à estação ferroviária de Santa Cruz. Depois, ao lado do pastor evangélico Manoel Ferreira (PTB-RJ), fez corpo-a-corpo no calçadão de Campo Grande e no de Bangu. Nas caminhadas, cabos eleitorais distribuíam folhetos com propostas de Paes para o transporte alternativo. Nos últimos dias, donos de vans fizeram protestos contra o candidato. O recado era dirigido às cooperativas, trabalhadores e passageiros das vans:

- O nosso objetivo é sim regularizar, legalizar e licitar. Está muito clara a nossa proposta. Não vamos ceder às pressões dos donos de cooperativas que exploram esses motoristas. Vamos respeitar os motoristas que estiverem numa situação regularizada, mas vamos ser rigorosos com quem estiver irregular.

Depois da panfletagem em Santa Cruz, Paes esperou o comércio abrir e seguiu em caminhada para o calçadão de Campo Grande. Era a todo tempo cercado por eleitores. Distribuiu autógrafos em cartazes com sua foto e era beijado por mulheres, principalmente idosas, além das crianças. Sobre a presença de Ferreira na sua campanha ontem, disse:

- Tenho, graças a Deus, o apoio de várias lideranças religiosas, mas não pela religião, e sim pelo que significamos de transformação da cidade. A religião não pode ser o principal tema da eleição.

Gabeira: "Eu não sou anti-ninguém"

Para Gabeira, sua aceitação na Zona Oeste vem aumentando e é fruto, principalmente, da exposição na TV, no rádio e na internet. No calçadão de Bangu, ele conversou com eleitores e chegou a medir a pressão, que deu 13 por oito. Antes de almoçar no shopping do bairro, Gabeira voltou a afirmar que não quer a nacionalização da campanha no Rio, caso vá para o segundo turno. E isso inclui não assumir uma postura contrária ao presidente Lula, citado a todo momento pelos outros três candidatos mais bem colocados nas pesquisas.

Gabeira nega ter recebido telefonema de interlocutores de Lula, que estaria preocupado com o cenário para 2010, mas já diz não esperar participação do presidente na campanha de segundo turno do Rio:

- Não sou anti-ninguém. Se fosse escolher ser anti-alguém, eu não seria anti-Lula. Tenho divergências com ele, nunca deixei de explicitá-las. Tenho certeza de que a campanha não será nacionalizada, tenho até dúvidas sobre quem o Lula acha o melhor candidato do Rio. Se vocês perguntarem a ele, acredito que ele vai vacilar.

E acrescentou:

- Se for o candidato que eu estou prevendo (Paes), esse é o campo de discussão mais incômodo para ele. Só te digo que é incômodo - disse Gabeira.

Jandira, quarta colocada nas pesquisas, centrou suas críticas em Gabeira e se colocou como a candidata anti-Crivella, mesmo tendo, até agora, poupado o adversário do PRB. As declarações de Jandira, no entanto, agora tiveram reação. Para Gabeira, a atitude da comunista, que chamou sua candidatura de "artificial", é desespero.

A candidata do PCdoB atacou até a imprensa:

- Estão insuflando um fenômeno absolutamente artificial que é o Gabeira para dizer que ele é o candidato anti-Crivella. A gente sabe que quem é anti-Crivella é aquele que consegue ter voto onde ele tem - disse ela, afirmando que a candidatura de Gabeira é desconhecida dos eleitores na Zona Oeste: - Ele (Gabeira) não existe na área popular da grande maioria dos eleitores.

Gabeira, que estava em Bangu, foi irônico sobre a adversária:

- Vamos deixar que o domingo diga se a minha candidatura é artificial, se eu sou um zero à esquerda na Zona Oeste. A decisão dela de se colocar como anti-Crivella é a luta desesperada pelo segundo turno. Se eu estivesse na posição dela, faria a mesma coisa - disse, afirmando que agora é tarde para a candidata: - Eu acho muito tarde, mas não quero também desencantá-la.