Título: Planalto pressiona Banco Central para interromper alta da Taxa Selic
Autor: Camarotti, Gerson; Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 03/10/2008, Economia, p. 30

Lula quer Copom mais ousado frente ao desaquecimento da economia.

BRASÍLIA e BUENOS AIRES. Com os reflexos no Brasil da crise financeira americana, o Palácio do Planalto iniciou, nos últimos dias, uma pressão junto ao Banco Central (BC) para que seja interrompida a trajetória de alta dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que acontecerá no fim deste mês. Segundo interlocutores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido que o Copom precisa ser mais ousado na sua decisão quanto à Taxa Selic, tendo em vista o cenário de desaquecimento da economia brasileira em 2009.

Na avaliação de um ministro ligado ao presidente da República, a turbulência econômica mundial pode trazer uma espécie de "benefício indireto". Isto porque a possibilidade cada vez maior de redução no ritmo de crescimento influencia diretamente a diminuição da pressão inflacionária. O presidente Lula já deixou claro em conversas reservadas que deseja que o Copom leve em consideração esse novo cenário internacional na sua próxima reunião.

Ontem, o presidente do BC, Henrique Meirelles, esteve no Palácio do Planalto para um encontro reservado com Lula e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Oficialmente, o BC evitou falar sobre a reunião. Mas um auxiliar direto de Lula chegou a afirmar que o presidente está convencido que, diferentemente da tendência original de se reduzir o nível de expansão dos juros, de 0,75 ponto percentual nas duas últimas reuniões para 0,5 ponto, já há condições de o BC ser mais radical.

A última decisão do Copom de elevação dos juros em 0,75 ponto percentual, em 10 de setembro, foi avaliada pelo Planalto como extremamente conservadora, o que se refletiu no próprio comitê, com uma clara divisão. Para o próprio Meirelles, Lula chegou a demonstrar contrariedade.

No núcleo do governo, a avaliação é que o Copom ficou refém da divulgação da sua ata anterior, sem levar em consideração os fatos recentes da economia, como os sinais de deflação. O grande temor é que, agora, aconteça o mesmo. Por isso, o Planalto começa a fazer uma ação preventiva.

Dentro do governo, integrantes da própria equipe econômica concordam com essa impressão do Palácio do Planalto. De acordo com uma fonte de alto escalão, "a política monetária estava trabalhando para fazer o efeito de contrair a economia. Se a economia começar a se contrair, provavelmente a política monetária tem de ser invertida".

Sempre que possível, o presidente Lula tem reconhecido o que classifica de "visão cautelosa" do presidente do BC, principalmente para conter a inflação. Segundo esse ministro palaciano, Meirelles teve uma decisão acertada, ainda em abril, ao começar a elevar a taxa de juros.

Meirelles e exportadores debatem hoje crédito

A preocupação com uma possível redução dos créditos no país como reflexo da crise internacional será o tema da reunião de empresários brasileiros com Meirelles hoje, na sede da embaixada do Brasil, em Buenos Aires. O pedido do encontro foi feito pelo presidente da Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Ele está à frente de um grupo de 12 empresários brasileiros que viajaram à cidade argentina para assistir ao lançamento do convênio entre os dois países, que permitirá a importadores e exportadores em suas respectivas moedas. O convênio foi assinado ontem e Meirelles encontrou-se com o presidente do BC argentino, Martin Redabro, e a presidente Cristina Kirchner.

COLABOROU: Gustavo Paul