Título: Divergências ameaçam fundo europeu de socorro
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 03/10/2008, Economia, p. 34

Reunião amanhã para discutir crise está mantida, mas Sarkozy desmente plano de 300 bi.

PARIS e FRANKFURT. Os presidentes do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e do Grupo Euro de ministros de Finanças, Jean-Claude Juncker, colocaram-se ontem ao lado da Alemanha contra a criação de um fundo europeu de resgate para bancos com problemas. Mas a França confirmou que o presidente Nicolas Sarkozy será o anfitrião de uma cúpula, amanhã, para discutir a crise financeira global, com Alemanha, Grã-Bretanha e Itália. Também devem participar o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, Trichet e Juncker.

Falava-se que a França - que convocou a reunião - defendia um socorro de 300 bilhões (US$418 bilhões), o que foi desmentido por Sarkozy.

- Eu nego tanto o volume, quanto o princípio (de tal plano) - disse o presidente francês.

Apesar da polêmica na União Européia (UE) sobre um resgate aos bancos, uma fonte do Ministério de Finanças da Grécia afirmou à agência EFE que o país vai garantir todos os depósitos bancários. A Irlanda tomou essa medida esta semana, sendo duramente criticada, especialmente por Grã-Bretanha e Espanha. Teme-se que, com o setor bancário cada vez mais globalizado, haja uma fuga de depositantes para os bancos irlandeses, atraídos pelas garantias do governo.

BCE mantém juros inalterados em 4,25%

A ministra de Finanças francesa, Christine Lagarde, disse que poderia ser necessária uma "rede de segurança européia" para impedir a quebra de algum banco ou de países pequenos da UE. Mas a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que a Alemanha "não pode e não vai passar um cheque em branco para os bancos".

O primeiro-ministro holandês, Jan Peter Balkenende, manifestou sua oposição a um fundo de resgate para toda a UE, mas disse que os governos poderiam reservar recursos para ajudar bancos em seus respectivos países. Ele afirmou que a idéia seria algo em torno de 3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

As autoridades européias manifestaram seu contentamento com a aprovação, pelo Senado americano, de um pacote de ajuda ao sistema financeiro. Mas afirmam que a UE não precisa de um programa semelhante, nem tem estrutura para isso.

- Não temos um orçamento federal, então a idéia de que poderíamos fazer o mesmo que foi feito do outro lado do Atlântico não se encaixa na estrutura política da Europa - afirmou Trichet.

Ele disse ao canal de TV France 24 que a situação atual é a pior desde a Segunda Guerra Mundial:

- Esta situação pede respostas à altura dos acontecimentos do conjunto dos responsáveis, ou seja, do setor privado e de todos os atores públicos, incluindo governos.

O BCE manteve inalterada ontem sua taxa básica de juros, em 4,25%. Trichet disse que os riscos de alta dos preços diminuíram, mas ainda não desapareceram.

Juncker também disse não ver necessidade de a Europa ter um plano semelhante ao americano. Os ministros de Finanças da zona do euro e da UE vão se reunir segunda e terça-feira, respectivamente, em Luxemburgo.

O Ministério de Economia espanhol afirmou, por sua vez, que apoiava a elevação das garantias de depósitos bancários na UE, atualmente em 20 mil.

Conselheiro defende ação coordenada para garantias

Já Ewald Nowotny, membro do conselho do BCE, defendeu ontem que a UE coordene as garantias aos depósitos e um possível sistema de fundo para resgate de bancos.

- Nossa idéia é que deve haver fundos nacionais que atuem de forma coordenada - disse Nowotny à agência Reuters. - Deve haver, pelo menos, uma harmonização dos limites por toda a Europa.