Título: Pacote à brasileira deve injetar R$64 bilhões
Autor: Paul, Gustavo; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 04/10/2008, Economia, p. 36

Após liberar compulsório para ajudar bancos, governo pode lançar mão de reservas para socorrer exportador.

BRASÍLIA e SANTO ANDRÉ (SP). Desde que a crise internacional se intensificou, o governo federal adotou medidas que poderão injetar R$64 bilhões na economia, dando mais crédito e liquidez ao mercado. A mais recente foi a liberação, na quinta-feira, do depósito compulsório de instituições financeiras para compra da carteira de crédito de bancos menores, que poderá irrigar o mercado com R$23,5 bilhões. Outras medidas já decididas só serão anunciadas após as eleições, como a injeção de R$7 bilhões de recursos do Fundo de Investimento (FI) do FGTS para o BNDES.

O montante poderá aumentar, dependendo da reação do mercado à aprovação do pacote dos EUA. Medidas adicionais não estão descartadas, entre elas o uso das reservas cambiais, que somam US$207 bilhões, como garantia a empréstimos contraídos por bancos brasileiros no exterior. Segundo um integrante da equipe econômica, essa garantia poderia ser feita via títulos do Tesouro e permitiria o ingresso de uma quantidade importante de recursos. Para cada US$10 bilhões captados lá fora, o Tesouro poderia entrar com cerca de US$1 bilhão. A medida é considerada de baixo risco, mas os técnicos analisam ainda os aspectos jurídicos da proposta.

- No meu governo não haverá pacotes econômicos. Haverá medidas pensadas e discutidas, sem causar prejuízos à economia - disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem à noite, em Santo André (SP).

A determinação de Lula é que se garantam recursos para as exportações e o setor agrícola. Para isso, técnicos do governo irão acompanhar a evolução da crise e a conveniência das medidas.

Também está em estudo a realização de leilões de dólares pelo Banco Central (BC) direcionados para a exportação. Por enquanto, o BC fez dois leilões - 19 e 26 de setembro - que somaram US$1 bilhão, mas uma parcela não foi para o comércio exterior. Segundo a fonte, estudam-se as formas legais de destinarem os dólares apenas para o setor exportador. Ações para facilitar a concessão de empréstimos do Programa de Crédito à Exportação (Proex) estão sendo analisadas. O governo quer encontrar uma maneira de canalizar esse dinheiro para áreas mais afetadas.

Medidas só sairão a partir de 13 de outubro

Há ainda outras propostas em discussão, como o uso de uma parcela das reservas cambiais para financiar diretamente as operações de comércio exterior. Assim, o BC emprestaria até US$20 bilhões das reservas aos bancos, que passariam aos exportadores. Esse dinheiro seria suficiente para dar fôlego de quatro a seis meses ao setor e seria devolvido ao BC com juros. Mas há resistência. O governo também estuda reduzir mais os compulsórios dos bancos.

Lula quer ver as opções no papel dentro de uma semana. Mas qualquer anúncio não deve sair antes de 13 de outubro, tempo considerado necessário pelo governo para o mercado financeiro se acalmar.

COLABOROU Soraya Aggege