Título: Em Salvador, eleição põe em jogo futuro do carlismo
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 05/10/2008, O País, p. 19

Depois de liderar quase todas as pesquisas, ACM Neto enfrenta disputa difícil contra João Henrique e Walter Pinheiro.

SALVADOR. O eleitor em Salvador está tão tonto em relação aos resultados da votação de hoje quanto os candidatos que disputam a eleição para prefeito da cidade. Nas ruas e nos comitês de campanha, ninguém arrisca dizer, com certeza, quem estará no segundo turno. Nas pesquisas divulgadas ontem, os resultados divergiram. Para o Datafolha, o prefeito João Henrique (PMDB) irá ao segundo turno contra Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) ou Walter Pinheiro. Para o Ibope, há um tríplice empate.

Segundo o Datafolha, João Henrique tem 31% das intenções de voto, ACM Neto, 25% e Walter Pinheiro, 22%. A margem de erro é de dois pontos percentuais. Dos votos válidos, João Henrique teria 33%, ACM Neto, 27%, e Walter Pinheiro, 24%.

O Ibope mostra um resultado ainda mais apertado: considerando apenas os votos válidos (sem contar em branco e nulos), ACM Neto, João Henrique e Walter Pinheiro têm 29% cada. Antônio Imbassahy (PSDB) tem 9% e Hilton Coelho (PSTU), 4%. No total de votos, ACM Neto, João Henrique e Pinheiro têm 26% cada. A margem de erro é de três pontos percentuais. O Ibope ouviu 805 eleitores entre os dias 2 e 4 de outubro. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral.

A eleição será um marco para o grupo político que durante décadas comandou o estado com o carlismo, hoje representado por ACM Neto. Será decisiva também para o projeto de poder do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), que pretende, com a reeleição de João Henrique, ocupar o espaço deixado pelo carlismo, engolindo o grupo petista do governador Jaques Wagner, em 2010. Um ano após sua morte, o senador Antonio Carlos Magalhães é uma remota lembrança na cabeça do eleitor.

Apesar de dizer que é grato ao avô, ACM Neto nem quer ouvir falar de carlismo. Rejeita o conceito com seu peso de truculência e concentração de poder. Maior promessa do grupo carlista - liderou a disputa até semana passada -, faz questão de se apresentar como um político moderno. O nome de ACM só foi citado na campanha pelos adversários. E poucas vezes.

- Não dá para pensar nesta pós-eleição com a cabeça no passado, entre carlismo e anticarlismo. Hoje tem um grupo de eleitores que está muito confuso, no sentido de que não existe mais uma política bipolar. Com o desaparecimento físico do senador ACM, acabou a onda do amo ou odeio - afirma ACM Neto.

A verdade é que o grupo que dominava a política em Salvador, e na maioria esmagadora das prefeituras do estado, murchou muito e elegerá poucos prefeitos.

- Começou um novo período na Bahia. O encerramento de uma fase de 16 anos de PFL, DEM. Há um horizonte maravilhoso pela frente, um novo cenário político. Se há uma disputa entre DEM e PMDB no segundo turno, não tenho dificuldade - avalia o governador Jaques Wagner, que, para preservar sua política de alianças, não se esforçou pela candidatura de Walter Pinheiro.