Título: SIP denuncia ataques à liberdade de imprensa e expressão
Autor: Guilayn, Priscila
Fonte: O Globo, 08/10/2008, O País, p. 12

Relatório de organização interamericana diz que, no Brasil, decisões judiciais dão condições à censura prévia.

MADRI. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) - que reúne 1.300 publicações do continente americano -, realizou sua 64ª Assembléia Anual em Madri, do dia 3 até ontem. A organização denunciou a persistência dos ataques contra a liberdade de expressão e aos jornalistas, além de pressão dos poderes públicos aos meios de comunicação em grande parte dos países da América Latina.

Sobre o Brasil, um dos relatórios afirma que as empresas de comunicação se sentem intimidadas por ações políticas e judiciais, em um clima que afeta de maneira direta a liberdade de imprensa em um país preocupado com as declarações de autoridades defendendo a violação do princípio constitucional de manter as fontes em segredo. "No Brasil, várias decisões judiciais têm dado lugar a condições de censura prévia e o governo apresentou um projeto de lei sobre interceptações telefônicas que ameaça restringir o livre exercício do jornalismo. Também foram apresentadas outras iniciativas legislativas sobre o acesso a informação pública e uma reforma da lei de imprensa", diz o trecho sobre o Brasil.

A SIP considerou como conseqüência mais grave do aumento da violência contra jornalistas o assassinato de oito profissionais na América Latina.

Em um dos seminários do evento, o diretor editorial para América Latina da agência de notícias Associated Press, Niko Price, ressaltou que os conflitos bélicos e o narcotráfico se transformaram nas principais ameaças para a liberdade de imprensa. O representante do "El Tiempo", de Bogotá, Enrique Santos, contou como a Colômbia, que em 2007 foi considerado o país mais perigoso para informar, tentou driblar esta situação:

- Após o assassinato do presidente do "El Espectador" houve uma aliança entre imprensa escrita, rádio e televisão para publicar, simultaneamente, reportagens sobre cartéis da droga, dando nome a seus chefes. Foi uma mensagem clara para os traficantes: não seria fácil silenciar os meios de comunicação.

O escritor Mario Vargas Llosa realizou conferência sobre a "civilização do espetáculo". Javier Moreno, diretor do espanhol "El País", que apresentou o escritor peruano, disse que o jornalismo é a melhor garantia de liberdade e o sensacionalismo, o pior mal da profissão.

- A credibilidade é o que transforma os jornais em uma infra-estrutura central e necessária para a sociedade civil. É o que vendemos aos nossos leitores e anunciantes.

Durante o evento, foram entregues prêmios e menções honrosas. Os jornalistas Alan Gripp, Roberto Stuckert Filho e Francisco Leali foram premiados pela reportagem do GLOBO, na qual revelaram a combinação de votos entre integrantes do Supremo Tribunal Federal durante julgamento do caso do mensalão.

O ministro de comunicação Venezuela, Andrés Izarra, disse ontem que o rei da Espanha, Juan Carlos, deve ser "mais cuidadoso ao escolher com quem se reúne", em alusão à participação dele na assembléia da SIP e a seu encontro com proprietários de veículos de comunicação.

- Tenha cuidado, rei Juan Carlos, com quem você aparece, com gângsters - disse o ministro do presidente Hugo Chávez.

Entre os jornais também premiados estão "O Dia", "Zero Hora", "La Terceira" (Chile), "Los Angeles Times" (Estados Unidos), "El País", "El Tiempo" (da Colômbia).