Título: FMI diz que risco de calote chega a US$12,3 tri
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 08/10/2008, Economia, p. 29

Fundo alerta também que os EUA "exportaram" para investidores na Europa US$580 bi em ativos podres.

WASHINGTON. O rombo no mercado financeiro dos Estados Unidos é bem maior do que o próprio governo americano calculou ? ou, pelo menos, divulgou ? ao anunciar que o seu pacote de US$700 bilhões seria suficiente para salvar bancos e financeiras. O buraco é, no momento, exatamente o dobro: US$1,4 trilhão. E há uma perspectiva de agravamento da situação, uma vez que há uma dívida quase dez vezes maior sob risco de calote - US$12,3 trilhões - composta tanto por hipotecas quanto por empréstimos corporativos e aos consumidores em geral. Ou seja, o valor está próximo ao do PIB americano, de US$14 trilhões.

Essa estimativa é do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ela está incluída no "Informe sobre a Estabilidade Financeira Global", divulgado ontem, no primeiro dia da reunião anual conjunta do Fundo com o Banco Mundial. De acordo com o estudo, apesar de o governo dos EUA estar injetando US$700 bilhões no mercado, ao longo dos próximos 15 meses só os principais 15 bancos do país vão necessitar de uma injeção idêntica - de US$700 bilhões - ao pacote oferecido agora a toda a praça, para voltar a operar com folga no mercado.

Para que todo o sistema se torne realmente saudável será preciso, segundo o Fundo, que os bancos se livrem do equivalente a US$2,4 trilhões de ativos - vendendo-os a instituições não-financeiras como, por exemplo, hedge funds e fundos de pensão. "A escalada da atual crise de crédito é provavelmente mais alta, em dólares, em comparação com as crises financeiras das últimas duas décadas", diz um trecho do estudo.

- Estamos diante de uma situação sem precedentes, e a situação permanece frágil. Os riscos macroeconômicos continuam a crescer, uma vez que a atividade econômica está desacelerando nas economias avançadas e as expansões nas economias emergentes perdem ímpeto - disse Jaime Caruana, diretor do Departamento Monetário e Mercados de Capitais do FMI, ao apresentar o estudo.

Ameaça é ligação entre setor real e financeiro

Dos US$1,4 trilhão em prejuízos com ativos originados nos EUA, cerca de 40% - ou US$580 bilhões - estão em mãos de europeus. Essa é a fonte de contaminação da Europa. Segundo o Fundo, há apenas uma forma de solucionar o problema: "Serão necessárias medidas internacionalmente decisivas e coerentes para restaurar a confiança no sistema financeiro global. O risco de uma reação adversa mais severa entre o sistema financeiro e a economia, como um todo, representa uma séria ameaça", alertou o FMI, reforçando a idéia de que apenas uma ação coordenada, inclusive com a participação dos principais países emergentes, poderá ser eficaz.

- Achar uma resolução puramente do setor privado para as tensões do mercado financeiro vem se tornando cada dia mais difícil. O enfoque de resolver o problema caso a caso não aliviou as preocupações do mercado. São necessários enfoques mais amplos - disse Caruana, reforçando a necessidade de os governos socorrerem bancos e financeiras com dinheiro público, "porque no momento há um acelerado e desordenado processo de ajustes".

Segundo o FMI, as instituições financeiras devem, primeiro, dar preferência a atrair capital, em vez de vender ativos; depois, garantir fontes adequadas de recursos. A tendência, segundo o Fundo, é a de haver consolidação do setor.