Título: Pela terceira vez, fora do segundo turno
Autor: Tabak, Flávio; March, Rodrigo
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 9

Crivella sai do processo eleitoral mais fraco politicamente do que quando entrou.

Marcelo Crivella (PRB) começou a pré-campanha para a prefeitura do Rio como o favorito. À frente em todas as pesquisas eleitorais, nas quais disputava a ponta com Jandira Feghali (PCdoB), Crivella, que se aproximava de 30% dos votos antes do início da campanha, começou a ser ameaçado depois que o PMDB rompeu o acordo com o PT, de Alessandro Molon, e lançou Eduardo Paes como candidato. Depois de ver o peemedebista ultrapassá-lo, Crivella perdeu, nas últimas semanas, espaço para Fernando Gabeira (PV). Pela terceira vez consecutiva, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus fica fora do segundo turno em campanhas para a prefeitura e o governo do Rio.

Desta vez, Crivella sai do processo eleitoral menor do que entrou. Em 2004, quando tentou ser prefeito pela primeira vez, o senador teve 21,83% dos votos na cidade. Ontem, registrou uma redução em seu eleitorado na cidade do Rio, apesar de ter investido em campanhas direcionadas para diversas camadas de eleitores, sob a orientação do marqueteiro Duda Mendonça.

Os votos de Crivella, que se concentram nas regiões populares da cidade, só foram suficientes para elegê-lo senador em 2002, quando teve 14,43% da votação no estado. Os números demonstram que Crivella sempre tem um piso de votos quando se candidata, mas também um teto. Em 2006, na campanha para governador, não conseguiu passar Denise Frossard para chegar ao segundo turno contra Sérgio Cabral. O resultado dele foi praticamente o mesmo de 2002: 16,26%.

Durante toda a campanha, ao constatar que não cresceria como planejara na Zona Sul, Crivella intensificou mais ainda as agendas nas zonas Norte e Oeste. O único comitê do senador na Zona Sul, localizado em Copacabana, concentrou a campanha em alguns eventos direcionados para convidados ou em panfletagens nos fins de semana. O principal esforço do senador foi em subir favelas e percorrer outras áreas que concentram a população de baixa renda.

O alto índice de rejeição a Crivella - um fator que se repetira nas outras campanhas que disputou - e o pouco tempo de exposição do partido na televisão são, na opinião do cientista político Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), os principais fatores que inviabilizaram a chegada do candidato ao segundo turno das eleições:

- Entre os eleitores de menor poder aquisitivo, Crivella foi atropelado pela ascensão de Paes nesta camada da população, enquanto Gabeira aproveitou a rejeição do candidato na classe média para crescer.

Ismael está convencido de que o erro de Crivella foi disputar um cargo majoritário sem dimensionar a rejeição a seu nome entre a classe média. (Flávio Tabak)